A especialista Raquel Duarte adiantou que é fundamental a aceleração o processo de vacinação
Covid-19

Teletrabalho, desfasamento de horários e uso de máscara em aglomerados. O que propõem os peritos?

Raquel Duarte defende que é essencial agir ainda antes do Natal devido à possibilidade de um "aumento exponencial de casos" nesta época.

Raquel Duarte, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, alertou que, Portugal está, neste momento, a atravessar uma "tendência de agravamento" da pandemia de Covid-19. Por isso, na reunião dos especialistas do Infarmed recomendou, entre outras medidas, o desfasamento de horários, o teletrabalho e o uso de máscaras em aglomerados.

Na reunião de avaliação sobre a situação da pandemia em Portugal, na sede do Infarmed, em Lisboa, propondo medidas de contexto geral, a especialista adiantou que é fundamental a aceleração o processo de vacinação, a desmistificação do processo de testagem, a utilização do certificado digital com teste recente nos espaços públicos, a utilização da máscara e prática do distanciamento físico em aglomerados, a monitorização das variantes em circulação, o controlo das fronteiras e a garantia da boa ventilação e climatização dos espaços interiores.

"O que nós propomos é que a estratégia adaptada à circunstância atual continue a assentar em cinco eixos fundamentais: a vacinação, a renovação do ar interior, a distância, a máscara e a testagem", explicou, salientando que o conjunto de medidas agora proposto "deve ser aplicado a par de um processo célere de reforço com a terceira dose da vacinação".

A especialista defendeu que é importante agir ainda antes do Natal devido à possibilidade de um "aumento exponencial de casos" nesta época. "A pandemia não acabou. O tempo de agir é agora", reiterou.

Especificamente no contexto laboral, deve ser adotado, sempre que possível, o desfasamento de horários e o teletrabalho, no "sentido de facilitar o cumprimento das medidas gerais", adiantou Raquel Duarte.

Para o comércio - incluindo centros comerciais -, restauração, hotelaria e alojamento, assim como para as atividades desportivas, os peritos propõem as medidas gerais apresentadas.

Para eventos de grande dimensão, nos casos em que não for possível o seu controlo, através do cumprimento das medidas gerais, não devem ser realizados, tanto no exterior, como no interior.

No que se refere à circulação nos espaços públicos, deve ser mantida a distância e a autoavaliação de risco com a utilização da máscara, "perante a perceção que existe risco, nomeadamente quando há concentração de pessoas", avançou a especialista em saúde pública.

Nos convívios familiares alargados, os especialistas avançam com a necessidade de cumprimento das medidas gerais, da autoavaliação do risco e a aplicação de autotestes de despiste do vírus.

Nos lares de idosos "deve haver cuidados particulares", salientou Raquel Duarte, propondo a identificação do risco de acordo com o grupo etário, as comorbilidades e o estado vacinal, a testagem regular para funcionários e visitas e a promoção de medidas de controlo de infeção.

Nos transportes públicos, além de sistemas de ventilação adequados, é proposto o distanciamento sempre que possível e utilização obrigatória de máscara.

Quinta vaga de Covid em Portugal. Crianças até 9 anos são as mais afetadas

Portugal encontra-se na quinta fase da pandemia de Covid-19 e apresenta uma incidência de infeções de 203 casos por 100 mil habitantes, sendo mais elevada na população jovem.

"Tivemos quatro grandes fases pandémicas e Portugal encontra-se, de momento, na quinta fase pandémica, até ao momento com um impacto na gravidade e na mortalidade inferiores às fases anteriores, ainda que mereçam alguma atenção especial", adiantou Pedro Pinto Leite, da DGS.

Pedro Pinto Leite adiantou ainda que o grupo etário com maior incidência de infeções é o das crianças até aos 9 anos, que corresponde a uma faixa da população não vacinada.

O grupo dos 20 aos 29 anos é o segundo que apresenta uma maior incidência de casos de infeção, seguindo-se a faixa dos 30 aos 39 anos.

"É muito importante vacinar as crianças quando as vacinas estiverem inequivocamente aprovadas"

Henrique de Barros, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, reconheceu que o país está numa situação cada vez mais protegida e aconselhou a vacinação das crianças, assim que as autoridades de saúde aprovarem os fármacos para os mais novos.

"A vacinação é a nossa medida fundamental de proteção. É muito importante vacinar as crianças quando as vacinas estiverem inequivocamente aprovadas e reforçar a vacinação das restantes pessoas à medida que o tempo vai passando", afirmou.

O especialista acrescentou que "mesmo que a Covid não tenha presença tão relevante como teve há um ano vamos ter, seguramente, muitas infeções respiratórias nesta altura, como sempre tivemos".

Vacinação terá evitado duas mil mortes

O resultado do processo nacional de vacinação contra a Covid-19, que atingiu perto de 87% de cobertura da população, terá evitado a morte de quase duas mil pessoas desde maio até agora, defendeu o epidemiologista Henrique Barros.

"Desde maio até agora, a adesão dos portugueses à vacina terá poupado à volta de 200 mil infeções, menos 135 mil dias em enfermaria, menos 55 mil dias em unidades de cuidados intensivos e pouparam-se cerca de duas mil vidas", afirmou o epidemiologista do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto.

Vacinas com eficácia acima dos 80% para prevenir hospitalização e morte

As vacinas contra a Covid-19 utilizadas em Portugal apresentam uma eficácia superior a 80% na prevenção de hospitalização e de morte e superior a 53% contra a infeção pelo SARS-CoV-2, adiantou Ausenda Machado, especialista do INSA.

Em relação às formas graves de doença, as "efetividades [das vacinas] são bastante elevadas, superior a 80% de uma forma geral, sendo mais baixas quando olhamos para população acima dos 80 anos", referiu.

Segundo a especialista, contra a infeção pelo coronavírus, as quatro vacinas utilizadas no plano de vacinação nacional permitem uma proteção acima dos 50% para os vários grupos etários.

"Os resultados da efetividade indicam-nos que as vacinas são efetivas na redução da doença, mas em particular quando olhamos para doença grave ou muito grave", explicou. Segundo disse, esta eficácia varia com a idade, o que já se observa em outras vacinas, e os valores mais elevados encontra-se na população entre os 30 e 49 anos.

Já nos idosos com 65 ou mais anos, "começamos a perceber que há um decaimento desta proteção conferida após a vacinação completa, sendo que este decaimento é mais significativo" no caso da infeção, o que vem reforçar da importância de uma dose de reforço, disse.

"A informação preliminar da introdução da estratégia de reforçar a vacinação na população com 80 ou mais anos parece mostrar um decréscimo da incidência neste grupo etário", acrescentou.

Adesão à dose de reforço contra a Covid-19 é de 80%

O responsável pelo Núcleo de Coordenação do Plano de Vacinação, coronel Carlos Penha-Gonçalves, adiantou que a adesão à dose de reforço da vacina contra a Covid-19 é de 80%, sendo que 630 mil pessoas já a receberam.

Relativamente à vacina da gripe sazonal, já foram vacinadas 79% das pessoas com mais de 80 anos, 42% das pessoas entre os 70 e 79 e 20% das pessoas entre os 60 e os 69.

Apesar de o Algarve ser a região com menor cobertura vacinal, o coronel admitiu que a distribuição geográfica da vacinação "está equilibrada".

O coronel Carlos Penha-Gonçalves alertou que o alargamento da população elegível para dose de reforço contra a Covid-19 vai exigir a disponibilização de mais meios no terreno, referindo que a atualização feita na quinta-feira pela Direção-Geral da Saúde sobre as condições de elegibilidade para a dose de reforço "duplica o esforço de planeamento" que tinha sido feito e impôs uma reprogramação do plano.

"Desde ontem [quinta-feira], pela norma da DGS, estamos agora a considerar outros grupos populacionais e estamos a falar, basicamente, de 1,8 milhões de pessoas", começou por dizer, continuando: "Esta nova ambição com o alargamento da população-alvo indica-nos que é preciso fazer um reforço da estrutura executiva, que administra a vacina. É nesse equilíbrio de aumento da capacidade no terreno que vamos atingir os objetivos".

Portugal poderá ultrapassar 240 casos por cem mil habitantes "em menos de duas semanas"

Baltazar Nunes, do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, adiantou que a linha dos 240 casos por cem mil habitantes poderá ser atingida em "menos de duas semanas, se a taxa de crescimento se mantiver".

"Estamos numa fase de aumento do número de casos com uma transmissibilidade elevada que duplica, praticamente, a cada 15 dias", afirmou.

Fazendo uma comparação entre o cenário do passado e o atual, o especialista explicou que "a situação é completamente diferente". No ano passado, por esta altura, a taxa de incidência encontrava-se em 700 casos por cem mil habitantes e, agora, está em 190.

O especialista do INSA indicou que o país está "com um nível moderado com tendência crescente" e avançou que "existe uma correlação entre a cobertura vacinal, a incidência e a mortalidade".

A Covid-19 provocou pelo menos 5.130.627 mortes em todo o mundo, entre mais de 255,49 milhões infeções pelo novo coronavírus registadas desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.

Em Portugal, desde março de 2020, morreram 18.300 pessoas e foram contabilizados 1.117.451 casos de infeção, segundo dados da Direção-Geral da Saúde.

A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e atualmente com variantes identificadas em vários países.

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* com Lusa

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