"Especificidade acima dos 90%." Hospital de Santa Maria está a usar inteligência artificial para rastrear glaucoma

Luís Abegão Pinto explica à TSF que a aplicação diz se o "doente deve ser referenciado ou não tem risco suficiente".

O Hospital de Santa Maria está desde novembro a fazer rastreios de glaucoma com recurso à inteligência artificial. O hospital em Lisboa é pioneiro ao utilizar esta tecnologia que permite poupar tempo e dinheiro no diagnóstico da doença ocular que causa cegueira irreversível.

O ponto de partida é um algoritmo a que o Hospital de Santa Maria acedeu através de uma parceria com uma empresa belga chamada Mona.

Antes só era possível ver oito doentes por dia e eram necessários sete exames com cerca de uma hora de duração para confirmar as suspeitas de glaucoma.

"Isto é um algoritmo, isto é uma aplicação. Como a aplicação do Whatsapp ou do Zoom, em que o que a pessoa faz é pôr as fotos que tira de qualquer das maneiras e esta aplicação, ao olhar para a fotografia, diz se este doente deve ser referenciado ou não tem risco suficiente", explica à TSF Luís Abegão Pinto, oftalmologista do hospital lisboeta.

O médico sublinha as mais-valias do programa de inteligência artificial treinado para reconhecer a doença progressiva e assintomática a partir de dados de cinco a seis mil casos.

"A vantagem da máquina é que não está zangada, não está atrasada, não apanhou trânsito, não tem estados de humor e, portanto, uma máquina é mais reprodutível do que um humano. Mesmo assim, comparado o humano com a máquina, deu resultados com uma especificidade acima dos 90%."

O algoritmo já diminuiu os tempos de espera nos rastreios ao glaucoma para quatro meses
no Hospital de Santa Maria e o objetivo é passar para menos de um mês até junho.

"Esta é uma doença que não tem cura e, ao não ter cura, a nossa guerra quando tentamos tratar a doença é travar a doença antes que ela se desenvolva. Não conseguimos que ela ande para trás. Daí a importância que nós damos a tentar apanhar os doentes o mais cedo possível, encurtar os tempos para o tratamento, porque uma vez que o nervo tenha sido danificado, já não anda para trás", destaca Luís Abegão Pinto.

Ganha-se tempo, mas também dinheiro: "É essa a vantagem. Isto, neste momento, não é um investimento. O custo de fazer o circuito completo de rastreio são 172 euros. O que nós pagaríamos, em velocidade cruzeiro, é à volta de sete euros pela análise da máquina."

Estima-se que em Portugal existam cerca de 400 mil pessoas com glaucoma e metade ainda estará por diagnosticar.

Por agora, o uso de inteligência artificial no rastreio do glaucoma está limitado ao Hospital de Santa Maria, mas deverá ser alargado a um centro de saúde em Lisboa até ao fim do primeiro semestre,
num projeto-piloto.

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