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O estudo foi desenvolvido pela Universidade de Coimbra no período entre 2019 e 2021. É considerado pioneiro por analisar as perceções de qualidade de vida de turistas e residentes usando os mesmos instrumentos.
Coimbra foi o caso de estudo deste trabalho que revela que residentes e turistas têm perceções elevadas de qualidade de vida, antes e depois da pandemia Covid-19. Mas a pandemia teve impacto na avaliação que fazem, com alguns aspetos a melhorarem e outros a piorarem, segundo Cláudia Seabra, docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e investigadora do Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território.
Dos resultados, a coordenadora do estudo começa por destacar a avaliação numa dimensão: "Tendo em conta que as 'questões urbanas' estão relacionadas com situações relativas a prevenção de aglomeração e congestionamento, controlo de trânsito, quer turistas, quer residentes consideram que não são aspetos positivos e que pioraram inclusivamente após a Covid."
Outro parâmetro avaliado foi o "orgulho e consciência da comunidade" que "foi elevada e mais elevada" depois da pandemia. "O que também se pode explicar, eventualmente, pela maior sensação de comunidade, a importância que a comunidade e que a entreajuda e a solidariedade tiveram durante a pandemia", afirma Cláudia Seabra.
A investigadora realça que as dimensões "modo de vida" e "oportunidades de recreação" foram consideradas "como positivas, mas que melhoraram" depois da pandemia.
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Sobre a "força económica", Cláudia Seabra nota um "resultado surpreendente": "Após a Covid, só os turistas é que percebem que em Coimbra existem, por exemplo, lojas e restaurantes pertencentes a residentes, preços de bens e serviços justos. Já os residentes não têm esta avaliação assim tão positiva."
Neste estudo, realizado entre 2019 e 2021, participaram 751 residentes e 605 turistas, com idades entre os 18 e 42 anos. "Os millennial e a Geração Z foram dos mais afetados pela pandemia em termos sociais, nas suas vidas", justifica a docente, notando também que estas gerações "são o futuro da atividade turística".
"Em termos turísticos, estas gerações são fundamentais para se perceber a sustentabilidade desta atividade, no futuro. Quer na perspetiva da procura, porque vai ser a maior quota de mercado de turistas nos próximos anos, mas também na perspetiva da oferta, porque quem vai trabalhar no turismo vão ser estas pessoas. Até 2030 vão representar 75% da força de trabalho global", acrescenta.
A esperança da coordenadora deste estudo é que "estes resultados sejam lidos pelas entidades públicas, mas também pelas empresas na área do turismo e percebam que aquilo que se faz para melhorar a perceção de qualidade de vida para os residentes também têm impacto muito significativo na perceção das pessoas que visitam esses locais".
"Temos, de uma vez por todas, tirar esta ideia de que devemos trabalhar só para os turistas ou devemos trabalhar só para os residentes. Pelo contrário, nós se melhorarmos a perceção de qualidade de vida, se melhorarmos a qualidade de vida dos residentes também o estamos a fazer para os turistas. Também não podemos pensar que vamos só trabalhar para melhorar a perceção e a satisfação dos turistas sem pensar nos residentes".
Segundo Cláudia Seabra este é um estudo pioneiro, porque "até aqui, os estudos eram feitos ou só na perspetiva dos residentes, ou só na perspetiva dos turistas e com instrumentos de medida diferentes".
"Com o mesmo instrumento de medida, no mesmo estudo, comparar turistas e residentes, foi o primeiro estudo. E no impacto da covid também foi o primeiro estudo".
Cláudia Seabra afirma que o estudo "não está acabado" e a intenção é, "todos os anos", ir recolhendo estes dados "de forma a podermos ter um estudo longitudinal, com um intervalo de tempo maior".