Fecho temporário de urgência pediátrica em Setúbal é "constrangedor" e "inadmissível"

Câmaras de Setúbal e Sesimbra estão preocupadas com a falta de resposta da urgência pediátrica do Hospital de Setúbal durante uma semana por falta de médicos.

O vereador da saúde da câmara municipal de Setúbal, Pedro Pina, considera "constrangedor e preocupante" o encerramento temporário da Urgência Pediátrica do Hospital de São Bernardo, em Setúbal, que devido à falta de médicos só deverá reabrir às 09h00 de dia 12.

"É muito difícil compreender, sobretudo numa fase em que, pelas circunstâncias do período do ano em que estamos - com uma procura muito grande pelas urgências hospitalares, tenhamos de ser confrontados com o encerramento por um período tão grande das urgências pediátricas", lamenta Pedro Pina em declarações à TSF.

"Em Setúbal, esta é uma situação que tem vindo a acontecer recorrentemente e resulta efetivamente de um total desinvestimento no Serviço Nacional de Saúde e dos nossos centros hospitalares", considera.

O vereador com o pelouro saúde sublinha que é urgente investir no hospital, sobretudo avançar com o alargamento das urgências pediátricas, obra "que se tem vindo a arrastar de forma incompreensível", já que era uma "promessa assumida por parte do Governo".

Por sua vez, o presidente da câmara de Sesimbra lembra que o concelho não tem qualquer resposta para casos agudos: são todos encaminhados para Setúbal.

Nenhuma das unidades de saúde primárias do concelho Sesimbra tem atendimento 24 horas, nem meios diagnósticos, aponta Francisco Jesus. "O que nós vamos ter neste momento é uma situação caótica (...) sem haver alternativas."

O autarca questiona para onde vão ser encaminhadas as crianças doentes, uma vez que até o Garcia de Orta "está a rebentar pelas costuras do ponto de vista da sua capacidade de resposta".

"Isto é uma situação - tem de ser dizer com todas as letras - inadmissível num Estado de direito, em pleno século XXI, num país como Portugal."

"Em rigor, nada se tem feito nos últimos anos para conseguir colmatar essa dificuldade que já tem provavelmente algumas décadas", condena.

João Gouveia, diretor do serviço de urgência, explica que o problema tem a ver com o grande número de doentes reencaminhados de outros hospitais e deixa um apelo: "Peço às pessoas que não venham à urgência a não ser que seja absolutamente necessário."

No fim de semana passado o hospital recebeu mais cem doentes por dia do que o habitual. E de todos os dorntes que chegaram à urgência só "40% dos doentes é que eram na área da nossa influência direta", aponta João Gouveia.

"Nós cobrimos e ajudamos os outros hospitais nos doentes que necessitam de tratamentos mais diferenciados. Se quando, por alguma outra razão, que foi o que aconteceu este fim de semana, eles entraram em falência, nós também ajudamos nos outros doentes, mas tem que haver uma reciprocidade."

As dificuldades nos hospitais não vão desaparecer tão cedo, lamenta o presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), Xavier Barreto.

O responsável defende que as urgências estão muito dependentes de tarefeiros e que é preciso mudar a organização das escalas com baseado num "novo paradigma com equipas dedicadas aos serviços de urgência, com contratos mais estáveis com os seus hospitais, que garantam até uma outra qualidade na forma como prestamos cuidados."

"Para este inverno estaremos sempre a falar de medidas de contingência que vão tentar mitigar o problema, mas que não vão resolver na sua parte essencial. Para isso são precisas medidas estruturais."

Devido à falta de médicos, a Urgência Pediátrica do Hospital de São Bernardo está encerrada a partir desta terça-feira e só deverá reabrir às 09h00 de dia 12.

Segundo fontes contactadas pela agência Lusa, o Centro de Atendimento de Doentes Urgentes (CODU) já alertou as companhias de bombeiros para comunicarem os dados clínicos dos doentes que deveriam ser atendidos naquele serviço, para os referenciar para outras unidades hospitalares.

Já no último domingo, o Serviço de Urgência Geral do Hospital de São Bernardo esteve sujeito a constrangimentos, tendo o CODU procedido ao encaminhamento de doentes da área de influência do Hospital de São Bernardo - Setúbal, Palmela e Sesimbra e Litoral Alentejano - para outras unidades hospitalares.

Nos últimos dias, o Serviço de Urgência de Ginecologia/Obstetrícia do Hospital de São Bernardo também registou dificuldades no atendimento de doentes.

Está a decorrer no ministério da Saúde uma reunião com represntantes das administrações hospitalares e da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, sabe a TSF.

Pode consultar os tempos de espera em todos os hospitais do país aqui

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