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Um ano depois da declaração do primeiro estado de emergência da democracia portuguesa, o arquivo portuense Cave Photography lança esta quinta-feira uma publicação que junta 45 fotografias que retrataram os 45 dias do primeiro confinamento. Chama-se "14-A/2020" e partilha o nome com o decreto-lei que instaurou o regime excecional em março do ano passado.
Nos primeiros dias da pandemia, vivia-se num mundo parado que começava e terminava dentro de quatro paredes. Joana Alves, uma das responsáveis pela Cave Photography, explica que o projeto aglutina "um conjunto de imagens íntimas e sem produção", que retratam o que de mais genuíno era vivido por cada fotógrafo.
Numa situação inédita para quase todos, o projeto partilha o nome com o decreto-lei que instaurou o primeiro estado de emergência depois do 25 de abril. "É um decreto que de repente trás para as nossas vidas uma coisa que a nossa geração não conhecia", explica Joana Alves.
Ouça a reportagem de Rui Carvalho Araújo
Das mais de duzentas imagens recebidas, foram selecionadas 45. Algo que para o curador Miguel Refresco não foi tarefa fácil, porque as participações "tinham todas bastante qualidade". Por isso, "a escolha foi pensada de acordo com a forma como poderiam relacionar-se".
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Leonel de Castro é autor de uma das imagens presentes na publicação. O fotojornalista do Jornal de Notícias revela que essa fotografia é resultado do reflexo da pandemia na própria família. "Essa imagem que integra o projeto é uma fotografia do meu filho a acordar, ainda enrolado na cama, com fotografias que lhe fui fazendo e que estão colocadas na parede e com os brinquedos espalhados pelo chão."
Um estado de sítio dentro de casa, que está patente também noutras fotografias, que, para o curador Rui Pinheiro, são capazes de dialogar entre si: "O que eu acho interessante neste conjunto de imagens são as relações que se podem fazer entre fotografias de autores diferentes e a maior parte deles nem se conhecem."
As imagens podem ser vistas e tocadas em formato de jornal, uma vez que esse objeto tem "uma carga simbólica associada", explica Miguel Refresco. De cariz mais ou menos jornalístico, as fotografias não deixam de carimbar um momento histórico para a humanidade. Leonel de Castro considera que apesar da imagem que captou refletir a própria família, a fotografia "também vai marcar este período da pandemia, a clausura de várias famílias que foram obrigadas a ficar recolhidas durante algum tempo".
Para já, as imagens podem ser vistas em formato de papel, mas o objetivo é ir mais além. Os responsáveis pela galeria Cave Photography pretendem expor as fotografias, não só no Porto, como em outros locais do país.
Ao todo são 45 fotógrafos diferentes que compõem o projeto e Rui Pinheiro denota que alguns deles contam com momentos históricos no currículo, como Alfredo Cunha, Eduardo Gageiro e Sérvio Valente - fotógrafos que captaram algumas das mais mediáticas fotos do 25 de abril.
A publicação "14-A/2020" pode ser encomendada e adquirida nas redes sociais e através do endereço de email do arquivo Cave Photography.