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O local de encontro para quem queria fazer parte da greve climática foi a Escola Secundária António Arroio, em Lisboa.
São várias as ações a decorrer durante todo o dia em várias cidades do país. Na capital, o grupo de jovens percorreu esta manhã as ruas de Lisboa até à Alameda. Pelo caminho, e por cerca de hora e meia, os jovens foram entoando gritos de ordem pelo ambiente, como "Mais ciclovia, menos rodovia". As frases por justiça social e climática deixaram as pessoas curiosas, que vieram às portas das lojas e às varandas para ver quem passava. Muitos gravaram com os telemóveis a comitiva e alguns acabaram mesmo por se juntar à greve.
Chegados à Fonte Luminosa, na Alameda, houve tempo para algumas intervenções em que ficou assente que é preciso ação porque "o planeta está a arder" e que "os efeitos das alterações climáticas já se fazem sentir com bastante intensidade" através de inundações, secas, insegurança política e económica, migrações forçadas.
No manifesto da greve climática, os jovens defendem que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), bem como o Roteiro para a Neutralidade Carbónica para 2050 são "manifestamente insuficientes para responder ao desafio que nos espera", para proteger o clima e as pessoas. Depois de discursar, Bruna Silva, de 20 anos, uma das porta-vozes da greve climática estudantil, disse à TSF que é preciso ação imediata e planos de longo prazo para o ambiente. "A única forma que temos de pensar num futuro sustentável e em que gostaríamos de viver, é se começarmos todos a agir agora. Nós já saímos às ruas, já fazemos a nossa parte, mas estamos a apelar para que as grandes instituições consigam fazer a parte deles. E é por isso que mencionamos no manifesto o PRR. Infelizmente, temos os recursos, mas é preciso uma grande coragem para os alocar no sentido certo". Os jovens têm noção de que investir no ambiente significa fazer cortes noutros setores, mas vê o investimento como algo a longo prazo porque se trata da sobrevivência humana. Bruna dá o exemplo do novo aeroporto que se quer construir no Montijo. "Se existem recurso para o aeroporto do Montijo, sabemos que também existem para renovar e requalificar a ferrovia - que é uma das nossas reivindicações - para unir Portugal com a Europa e as cidades de norte a sul", explica Bruna Silva.
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© Magda Cruz/TSF
No manifesto da greve climática, os estudantes da greve climática defendem que os fundos do PRR devem ser aplicados na rede de transportes, especialmente na ferrovia, e propõem que o Orçamento do Estado para 2022 inclua transportes gratuitos. "Atualmente, há zonas do país que não têm uma rede de transportes para se deslocarem para outras localidades, por isso, exigimos que seja criada uma rede de transportes a nível nacional, que consiga albergar todas as pessoas. Isto porque se queremos que as pessoas deixem de usar meios de transporte individual, temos de lhes dar alternativas viáveis, rápidas, eficientes e cómodas", conclui a porta-voz da greve climática em Lisboa.
Sobre a promessa que o presidente eleito para a Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, fez em campanha eleitoral, de acabar com a ciclovia na Almirante Reis, Bruna Silva explica que as ciclovias são uma parte importantes das cidades. "É muito importante preservar esta ciclovia devido à grande afluência de carros que há em Lisboa. Quantas mais ciclovias melhor. As ciclovias incentivam as pessoas a não só optar por transportes públicos. É muito importante que essa ciclovia não seja eliminada" porque usando a bicicleta as pessoas não contribuem para a poluição do ar.
Também presente no início do percurso dos jovens, o deputado do Bloco de Esquerda Nelson Peralta, disse que o que Carlos Moedas fez um ataque à ciclovia e àqueles que são os "utilizadores mais vulneráveis da via". O deputado entende que a eliminação desta ciclovia é um "retrocesso" em relação ao que Lisboa já tem. Em vésperas de mais uma cimeira do clima, o deputado do Bloco de Esquerda explica que é necessário investir fundos em "políticas de descarbonização, nos transportes públicos, na adaptação dos espaços urbanos, na ferrovia, em formas diferentes de produzir energia e acima de tudo, em criarmos um mundo mais solidário, onde a justiça climática e social estejam no centro das preocupações".

Nelson Peralta, deputado do Bloco de Esquerda
© Magda Cruz/TSF
Para o Bloco de Esquerda o governo não tem levado a sério as alterações climáticas e a luta pelo ambiente. "Está agora em discussão uma Lei de Bases do Clima e aquilo que percebemos é que da parte do governo é que querem manter as metas já vigentes. Ainda recentemente um relatório das Nações Unidas dizia que as alterações climáticas têm afinal impactos mais graves e que vão ocorrer mais rapidamente. Aquilo de que precisamos neste momento é de acrescer na ambição e antecipar todas as datas para fazermos a transformação o quanto antes porque não há tempo para esperar", diz à TSF o deputado Nelson Peralta, que explica que Portugal é dos países que mais irão sentir os efeitos das alterações climáticas, "seja com os fogos florestais, seja com a subida do nível médio das águas do mar".
No manifesto da greve, os jovens defendem também uma transição energética justa sem deixar trabalhadores para trás; o cancelamento da expansão do aeroporto; a proibição de produtos químicos e a aposta na agricultura biológica; a introdução do estudo das alterações climáticas no ensino; mais financiamento das universidades para que possam investigar formas de produção mais sustentáveis; e, por exemplo, o investimento na rede de compostagem urbana, bem como em parques de estacionamento de bicicletas e trotinetes.
Houve ações inseridas neste dia de greve climática no Algarve, em Alcácer, Braga, Caldas da Rainha, Guimarães, Santarém, Leiria e Porto.
Em linha com o discurso da ativista Greta Thunberg, os estudantes dizem que o governo português apenas aparenta preocupar-se com o clima e podia fazer muito mais. Para já, os jovens não conseguiram fazer chegar as propostas aos governantes, mas estão a trabalhar nesse sentido.
A greve climática estudantil vai voltar a sair à rua dia 6 de novembro às 15h00, com ponto de encontro no Martim Moniz, em Lisboa.