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Promover a integração de crianças ucranianas até aos seis anos através da metodologia "Grupos ABC - Aprender, Brincar, Crescer". A Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) decidiu apoiar projetos que promovam a integração de crianças até aos seis anos "que não tenham resposta de creches ou jardins de infância" nas zonas do país onde se encontrem. O processo de integração proposto será feito com recurso à metodologia de playgroups "ABC - Aprender, Brincar, Crescer" (GABC).
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Os GABC são conjuntos de cinco a dez crianças e seus cuidadores que se reúnem duas vezes por semana, em espaços de tipologias diversas como "escolas, bibliotecas, instituições públicas e de solidariedade locais, espaços públicos, mercados, estabelecimentos comerciais", para interagirem e brincarem em conjunto. "Qualquer local é bom para brincar", afirma Pedro Cunha. Cada sessão é "dinamizada por um ou dois monitores que, ao longo de cerca de duas horas, promovem contextos de socialização e de experimentação estimulantes, através de brincadeiras e atividades informais favoráveis à aprendizagem".
O diretor do Programa Gulbenkian Conhecimento diz à TSF que "uma das coisas que tem sido sistematicamente identificada pelas organizações no terreno, é a necessidade de acolher de forma cuidada e organizada as crianças pequenas e, sobretudo, as famílias com crianças pequenas que não conseguem encontrar creches ou jardins de infância, porque como sabemos a oferta e procura em Portugal ainda é um pouco desequilibrada; isto é, ainda não é possível para todos os que desejam, encontrar de forma gratuita ou a preço acessível lugar em serviço de creches ou jardins de infãncia, especialmente nas áreas metropolitanas do Porto, Lisboa e no Algarve", as zonas do país com mais elevada densidade populacional.

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A metodologia de Grupos ABC foi testada com sucesso em Portugal entre 2013 e 2017, num projeto liderado na altura pela Direção-Geral de Educação e que tinha como parceiros, entre outros, a própria FCG, mas também a Fundação Aga Khan, o Alto Comissariado para as Migrações, o ISCTE e a Universidade de Coimbra: "experimentámos uma forma de responder às famílias e ás crianças pequenas (dos zero aos seis anos), que não conseguiam - por razões diversas, mas muito por exclusão social e pobreza extrema - não conseguiam aceder a respostas educativas que são absolutamente fundamentais". Pedro Cunha sintetiza: "as crianças só têm uma infância e não há tempo a perder. Cada dia conta e cada dia é uma oportunidade de desenvolvimento de aprendizagem que não pode ser desperdiçado."
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Numa altura de crise como a que faz receber todos os dias centenas de cidadãos ucranianos, a Gulbenkian pretende assim "dar um sinal
às organizações da sociedade civil de que a fundação está disponível para as apoiar neste esforço que estão a fazer todos os dias e que é absolutamente louvável".
Os encontros de duas horas propostos pela metodologia de Grupos ABC em que se baseia a iniciativa da FCG, não resolve o problema das famílias ucranianas que necessitem de trabalhar e precisem de deixar as crianças num infantário um dia inteiro, reconhece Pedro Cunha, que não deixa de dizer que "os playgroups ou grupos de brincadeira, nasceram como espaços de socialização para crianças ou famílias que estavam de alguma forma isoladas do ponto de vista social. Mas nós estamos perfeitamente abertos e até à espera que esta metodologia, que tem uma origem e um propósito, seja agora adaptada às necessidades, quer das crianças, quer das famílias". O diretor do Programa Conhecimento da Gulbenkian é perentório: "nós não estamos aqui a criar um programa de creches de segunda categoria ou creches de vão de escada. Nós não vamos nunca substituir-nos às creches". Ou seja, os grupos nunca serão "um serviço tradicional de cuidado e guarda de crianças". Mas é "perfeitamente possível que a sua frequência possa vir a ser muito maior que a bissemanal e que a duração seja maior que as duas horas e que algumas vezes as mães possam estar ali por perto em cursos de português ou que, nalguns momentos do grupo, possam lá estar presencialmente. Isso é perfeitamente possível e estaremos abertos a essas adaptações necessárias numa altura de crise como esta".
As entidades interessadas em acolher os grupos ABC podem, até dia 20, candidatar-se, sejam pessoas coletivas, públicas ou privadas, sem fins lucrativos, desde que "legalmente reconhecidas e com atividade na área da Educação ou da Ação Social". A formação dos monitores será promovida por vários parceiros da FCG, entre os quais o Ministério da Educação e Fundação Bissaya Barreto. Através deste concurso, a fundação procura garantir o funcionamento dos GABC até ao final do mês de setembro, com o objetivo de beneficiar um total de mil crianças.