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O investigador do Laboratório Colaborativo (CoLAB) +ATLANTIC e da Universidade do Porto, Renato Mendes, venceu o prémio 'FLAD Science Award Atlantic 2021', no valor de 300 mil euros, anunciou esta terça-feira a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD).
Renato Mendes apresentou o projeto JUNO, para avaliação, desenvolvimento e teste operacional de um veículo marítimo autónomo de superfície para completar a primeira viagem entre Portugal Continental e o Arquipélago dos Açores com controlo e supervisão remotos.
O veículo, movido com recurso a energia das ondas e painéis solares, vai permitir recolher dados oceânicos de longa duração de forma consistente e sustentável e estudar fenómenos temporários e localizados, como a proliferação ocasional de algas que afeta a pesca e apanha de bivalves, o desenvolvimento de frentes oceânicas ou as chamadas "ilhas de plástico".
Ouça as explicações do jornalista Rui Carvalho Araújo
Renato Mendes explica que o JUNO é "um projeto de caráter exploratório em que será feita a avaliação e o teste operacional de um inovador veículo autónomo de superfície, o Autonaut, numa viagem de longa duração no Atlântico".
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"Tal capacidade permite obter novos dados científicos em locais que até aqui eram de muito difícil acesso, inclusive em ambientes sensíveis ou Áreas Marinhas Protegida", disse o investigador, numa nota enviada à Lusa.
Renato Mendes considerou que, numa altura em que Portugal poderá, caso a extensão da sua plataforma continental venha a ser aprovada pelas Nações Unidas, vir a ter uma área marítima de mais de quatro milhões de quilómetros quadrados (km2), "torna-se inadiável que esta soberania seja exercida também através de uma rede de observação oceânica mais abrangente e sustentável, cumprindo os objetivos propostos pela Década do Oceano".
O JUNO será desenvolvido por uma equipa multidisciplinar e focar-se-á, ao longo de todo o ciclo de desenvolvimento, em avaliar e testar a capacidade deste tipo de veículos autónomos na observação de fenómenos oceanográficos dinâmicos, com especial ênfase naqueles que, por vezes, duram apenas alguns dias ou semanas.
O Autonaut pode ser configurado para permanecer durante longos períodos no oceano, permitindo a observação mais detalhada de certos fenómenos naturais, como a proliferação ocasional de algas ou o desenvolvimento de frentes oceânicas onde a salinidade e temperatura da água do mar sofrem mudanças acentuadas num espaço reduzido.
Neste segundo caso, "o afloramento costeiro ('upwelling') pode ter um impacto positivo muito significativo na pesca, uma vez que a sua ocorrência, que traz à superfície águas profundas mais ricas em nutrientes, tende a criar condições ótimas para o crescimento de toda a cadeia alimentar", sublinhou Renato Mendes.
"Outros fenómenos oceanográficos esporádicos e transitórios como os vórtices são também hotspots de aglomeração de materiais e detritos flutuantes. O Autonaut poderá igualmente servir para monitorizar estas aglomerações, por vezes descritas como 'ilhas de plástico' sem prejudicar o meio ambiente em virtude da sua mobilidade não depender de motores ou combustíveis", acrescentou.
Dado que a sua operação é "extremamente silenciosa", o veículo poderá também ser utilizado na monitorização de ruído no oceano, com recurso a sensores acústicos passivos, em áreas ambientalmente sensíveis ou pouco exploradas do Atlântico.
Como projeto experimental, o JUNO dará especial atenção ao software de operação remota deste ou de outros sistemas utilizados isolada ou colaborativamente em campanhas oceanográficas.
Tal software, de acordo com o investigador, simplificará as operações de longa duração, especialmente no que se relaciona com a gestão de risco de navegação em zonas de maior tráfego marítimo, e, ao mesmo tempo, possibilita que cientistas e os cidadãos possam aceder aos dados recolhidos.
"O software do JUNO permitirá criar um ambiente colaborativo, inclusivo e multidisciplinar favorável ao envolvimento de cientistas de diferentes áreas, bem como organizações e cidadãos que desejem fazer parte do processo de I&D", disse.
O FLAD Science Award Atlantic 2021 tem o valor máximo de 300 mil euros, por um máximo de 3 anos, o que corresponde a 100 mil euros por ano.
A seleção do projeto foi feita por um júri composto por Miguel Miranda, da Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa e presidente do IPMA; Pedro Camanho, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e presidente do LAETA e por Elsa Henriques, do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa e membro do Conselho Executivo da FLAD.
O projeto está a ser desenvolvido no laboratório colaborativo +Atlantic que visa o avanço do conhecimento sobre as interações entre o oceano, a atmosfera, o clima e a energia no Atlântico, através de uma abordagem integrada e holística do mar profundo ao espaço.
O CoLAB +Atlantic reúne comunidades científicas, académicas e industriais, promovendo e explorando sinergias entre empresas, universidades, associações e institutos de investigação.
A FLAD apoia investigadores em início de carreira, promovendo assim a geração de investigadores em Portugal, em estreita colaboração com os principais centros de investigação nos EUA.
A 2ª edição do FLAD Science Award Atlantic incluiu as áreas de engenharia/tecnologia e ambiente/ciências naturais, da edição anterior, e acrescentou as ciências sociais e humanidades como áreas de estudo, com objetivo de criar e desenvolver ferramentas transversais e soluções estratégicas para os desafios da atividade humana no Atlântico.