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A Privado Clientes, associação de lesados do Banco Privado Português (BPP), comentou esta quinta-feira a fuga do antigo presidente do banco João Rendeiro, considerando que esta "vai agravar a capacidade de recuperar valores de indemnização" aos queixosos.
Em resposta a questões da agência Lusa, a Privado Clientes refere que a fuga de João Rendeiro "é um problema moral e mais um exemplo de mau funcionamento da justiça, mas não resolve os prejuízos dos ex-clientes do BPP e ainda vai agravar a capacidade de recuperar valores de indemnização aos lesados".
No texto, em reação à fuga, os associados da Privado Clientes lembram "um processo contra o Estado Português que aguarda despacho há mais de dez anos", em que o Conselho de Administração nomeado em 2008 "pagou apenas às Caixas de Crédito Agrícolas e credores internacionais".
"Esta discriminação, pelo Conselho de Administração Provisório nomeado pelo BdP [Banco de Portugal], levou à instauração de um processo visando a discriminação de credores efetuada", recordam os lesados.
A associação refere também o caso de "um cliente do BPP que instaurou um processo ao BdP por negligência na supervisão, processo que já foi julgado, mas aguarda sentença há quatro anos".
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"A Privado Clientes recorda ainda outro processo contra a Deloitte, por falhas nas Auditorias, que aguarda julgamento há 10 anos", pode também ler-se no texto enviado à Lusa.
Para a associação, "são todas estas situações que preocupam os clientes do BPP, pois é através destes processos que podem recuperar o seu dinheiro".
O ex-presidente do Banco Privado Português (BPP) João Rendeiro, condenado na terça-feira a prisão efetiva num processo por crimes de burla qualificada, diz que não pretende regressar a Portugal por se sentir injustiçado e vai recorrer a instâncias internacionais.
Entretanto, forças policiais nacionais e internacionais já receberam os mandados de detenção contra João Rendeiro, para que o ex-banqueiro, ausente no estrangeiro e em paradeiro incerto, cumpra a medida de coação de prisão preventiva.
De acordo com o despacho do Tribunal criminal de Lisboa, datado da tarde de quarta-feira, a que a agência Lusa teve hoje acesso, os mandados de detenção europeu e internacional foram emitidos depois de a juíza ter considerado que João Rendeiro demonstrou, através de requerimentos datados de julho e setembro, não ter intenção de revelar o seu paradeiro no estrangeiro.
João Rendeiro foi condenado na terça-feira a uma pena efetiva de três anos e seis meses de prisão, num processo por crimes de burla qualificada.
Na origem deste julgamento está a queixa do embaixador jubilado Júlio Mascarenhas que, em 2008, investiu 250 mil euros em obrigações do BPP, poucos meses antes de ser público que a instituição liderada por João Rendeiro estava numa situação grave.
Também neste processo estavam acusados os ex-administradores Paulo Guichard e Salvador Fezas Vital. O primeiro foi condenado a três anos de prisão e o segundo a dois anos e seis meses de prisão.
O tribunal decidiu que os ex-gestores do BPP terão ainda de pagar 225 mil euros por danos patrimoniais e 10 mil euros por danos morais a Júlio Mascarenhas.
Noutro processo, o ex-banqueiro foi condenado, em 14 de maio, a 10 anos de prisão, por crimes de fraude fiscal qualificada, abuso de confiança qualificado e branqueamento, encontrando-se o processo na fase das alegações e respostas aos recursos.
Rendeiro foi ainda condenado, em 15 de outubro de 2018, a uma pena de cinco anos de prisão por crimes de falsidade informática e falsificação de documentos no âmbito de um outro processo, mas cuja decisão condenatória (já transitada em julgado) não foi ainda executada após recursos falhados para o Tribunal da Relação, Supremo Tribunal e Tribunal Constitucional.