- Comentar
Pedro Matos Pereira, investigador principal do laboratório de Biologia da Infeção Microbiana Intracelular do Instituto de Tecnologia Química e Biológica da Universidade Nova de Lisboa, alerta para a necessidade de se encontrarem novas formas de tratamento para as infeções. Caso contrário, as mortes causadas por bactérias resistentes aos antibióticos vão ultrapassar os óbitos por cancro e doenças cardiovasculares. Foi o que o especialista revelou, em entrevista com Fernando Alves, na Manhã TSF.
Os dados mais recentes indicam que as infeções por bactérias resistentes causam 1160 mortes por ano em Portugal. Este "é um cenário muito preocupante, apesar de a comunidade científica estar a trabalhar, com grande força, para descobrir novas moléculas que possam ser utilizadas como antibióticos", considerou Pedro Matos Pereira. Mas os motivos de preocupação são vários. "Não é só a questão das mortes, é muito mais do que isso", assinala o investigador.
Ouça a entrevista de Fernando Alves com Pedro Matos Pereira.
"As pessoas esquecem-se - já não se lembram, porque não é do tempo das nossas gerações a não existência de antibióticos - que, além de causar a morte das pessoas, mesmo quando as pessoas recuperam, ficam com sequelas gravíssimas." É uma realidade que pode decorrer da "má utilização" dos antibióticos, como nas artrites reumatoides e problemas do sistema imunitário.
Pedro Matos Pereira avisa: "Se nós não controlarmos, por um lado, a forma como os antibióticos são utilizados, e, por outro lado, encontrarmos novos antibióticos, novas moléculas que possam ser utilizadas nesse contexto, sim, temos um problema grave."
Subscrever newsletter
Subscreva a nossa newsletter e tenha as notícias no seu e-mail todos os dias
O investigador estuda a forma como as bactérias infetam as células e todo o processo decorrente dessa infeção, utilizando, para isso, os antibióticos já existentes. Assim, pode testar moléculas e dar-lhes novas utilizações, bem como aproveitar sinergias que os compostos possam ter, também recorrendo ao meio natural para as encontrar. "Há aí um grande potencial na área dos antibióticos", garante. A nova área de modulação computacional também apresenta um potencial promissor, no sentido de conseguir prever quais são as moléculas que melhor se combinarão para o efeito desejado.
Mas, por enquanto, os antibióticos continuam a ser mal utilizados, adverte o especialista. "O clássico de, quando as pessoas se sentem melhor e param o antibiótico, quando os médicos aconselham que o antibiótico seja tomado até ao fim, por exemplo, o facto de, durante muito tempo, e ainda nalguns locais do mundo, se utilizarem antibióticos como fatores de crescimento na produção animal... Tudo isso cria esta pressão seletiva para a existência de bactérias resistentes aos antibióticos."
"Hoje em dia já não se utiliza, mas, por exemplo, quando a penicilina foi descoberta - o primeiro antibiótico que utilizámos -, foi considerada a droga milagre, porque matava todas as bactérias, e, de facto, passou a ser utilizada em todos os compostos: cremes, antibióticos, tudo... Sem consideração pelas concentrações e pelo cuidado que se deve observar aquando da toma destas moléculas", exemplifica Pedro Matos Pereira.
Apesar de agora haver "mais consciência" sobre este problema, como é "fácil" ir buscar um antibiótico a uma farmácia e passar a sentir-se bem, "a pessoa esquece-se do cuidado que tem de ter ao tomar este tipo de moléculas", sublinha o investigador.

Leia também:
Infeções por bactérias resistentes causam 1160 mortes por ano em Portugal

Leia também:
Mau uso de antibióticos pode estar a causar "pandemia escondida"

Leia também:
DGS quer combater infeções hospitalares e reduzir resistência aos antibióticos