"Muito crítico." Numa aldeia que vive do turismo, o isolamento pela chuva pode ser fatal
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"Muito crítico." Numa aldeia que vive do turismo, o isolamento pela chuva pode ser fatal

Quem recusa passar a única ponte que dá acesso a Foros do Mocho - e há quem recuse - a alternativa é percorrer caminhos de terra batida. O alojamento local já teve de devolver o dinheiro que tinha cobrado para o Ano Novo e no restaurante de Fernanda as encomendas de Natal ficaram suspensas.

Fernanda Prates é a dona do único restaurante em Foros do Mocho, Ponte de Sor. Teve de suspender todas as encomendas que tinha para o Natal. De todas as famílias que costumam ir passar esta época à aldeia, só uma o fez neste ano. E tudo isto é "muito crítico" para um lugar que vive sobretudo do "muito turismo".

Aninhada na albufeira da barragem de Montargil, Foros do Mocho está praticamente isolada desde que a chuva intensa de há duas semanas tornou inseguro passar na ponte que lhe dá acesso. Para chegar a Montargil, sede de freguesia a alternativa é percorrer 40 quilómetros, boa parte deles em caminhos de terra batida que, com a água da chuva, se tornou lama.

Este domingo, Fernanda Prates não abre o café, isso já é certo, ao contrário do futuro. "Se não resolverem isto rapidamente, vou provavelmente fechar totalmente", lamenta em declarações à TSF.

Quer que alguém "dê a cara", já que "não há apoios" nem ajuda com as despesas. E como Fernanda, há "pessoas que têm de chegar aos seus trabalhos" e até outras atividades económicas que se veem fortemente afetadas pela falta de acessos.

"Há muito pessoal a cortar lenhas e que têm de as vender. Se não tiverem maneira de transportar essas lenhas... Não podem estar constantemente uma coisa e depois não têm escoamento para a matéria", conta, sem esquecer os alojamentos locais: "Muitas pessoas tiveram de devolver o dinheiro que já tinham para a passagem de ano."

Para Fernanda, além das encomendas que perdeu, também o seu Natal foi afetado. Os filhos fizeram a viagem, mas a nora "recusou passar a ponte, fez os quilómetros pela terra batida".

Também outras famílias "recusaram mesmo passar a ponte da forma como está" e não foram até Foros do Mocho para celebrar o Natal e até o Ano Novo, como muitas costumam fazer.

Agravados pela chuva, os problemas nesta ponte - a única ponte - não são novos. Fernanda conta que, até há pouco tempo, a insegurança à noite era muita pelos "dois buracos enormes, que estão a cair a qualquer momento".

Conta que, recentemente, teve de a passar e ficou "sem bateria no telemóvel, que era a única forma de iluminar a estrada". Pensou no pior - um "pânico horrível" -, por ter medo que houvesse um desabamento "sem ninguém dar conta".

Há, no entanto, algum alívio: "Felizmente puseram dois focos de iluminação, o que agradeço muito porque foi muito importante para nós." Mas os planos para esta travessia não a convencem.

O município de Ponte de Sor e o Exército assinaram recentemente um acordo para a montagem de uma ponte militar sobre um dos afluentes da albufeira. Fernanda Prates diz que não é solução: "São terras mexidas, encharcadas de água."

A infraestrutura, conta, "até já era para ter sido montada", mas os terrenos escolhidos não conseguiam "sustentar o peso da ponte". Além disto, esta empresária está convencida de que ninguém "vai fazer quilómetros em terra batida para ficar atolado na estrada e ser preciso uma máquina para o rebocar". Até lá, com ou sem ponte, o futuro de Foros do Mocho está em suspenso.

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