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O Natal e o aniversário deste ano de Benjamim Santos foram os mais difíceis da sua vida de mar. O pescador celebrou 60 anos de idade esta segunda-feira, 27 de dezembro, confinado num barco no porto de Viana do Castelo, com mais oito homens, dois deles infetados com Covid-19. Triste com a inesperada "viagem" que lhes tocou viver neste final de ano.
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Saíram a 6 de dezembro para a faina do espadarte e contavam regressar apenas em fevereiro. Eram dez tripulantes (três portugueses e sete indonésios) e quando se encontravam no mar a mais de 400 milhas de costa, um deles começou a apresentar "sintomas severos" de Covid-19. Foi evacuado de helicóptero no dia 18 e a embarcação de pesca costeira "Nossa", do armador António Cunha de Vila Praia de Âncora, regressou a terra. Está atracada em Viana desde dia 19, com toda a tripulação a bordo. Isolada do mundo, mas em convívio com um vírus contagioso. No barco não cabe a tristeza que sentem pela situação e por terem passado o Natal longe e ao mesmo tempo perto da família.
Ouça aqui a reportagem da TSF
"Foi triste porque chegou a uma certa hora da noite e veio a minha esposa com uma minha sobrinha, trazer-nos o bacalhau e as batatas. Nós acolhemos e mandámo-las embora, porque não estavam aqui a fazer nada. Foi uma tristeza. Ao fim de 60 anos, a maior tristeza da minha vida é esta", contou Benjamim, desanimado apesar de ontem, familiares, colegas e até jornalistas, lhe terem cantado os parabéns (a equipa de um canal de televisão até ofereceu bolo).
"Já sou pescador desde os 16 anos. Tenho quase 45 anos de mar e isto é o mais difícil que eu passei em toda a minha vida de mar. Já naufraguei nas Malvinas (ilhas no Atlântico Sul também chamadas de Falkland) e não tive problema nenhum, mas com esta idade acho que não estava preparado para esta situação. Estou encarcerado. Não posso sair do barco", lamentou, desabafando: "Estou a viver um pesadelo. Ao fim de 60 anos de vida estou a viver um pesadelo, mas que pesadelo."
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Luís Trocado, de 45 anos, mestre da embarcação, emociona-se ao contar que na noite de Natal enxergou tristeza nos olhos dos filhos que o visitaram no cais. "Já tinha passado o último Natal longe deles em alto mar e custou-lhes. Embora já estivessem mentalizados que também este passaria fora, mas não tão perto. Vieram aí e pouco tempo estiveram para não começarem as lágrimas nos olhos", descreveu, referindo que apesar de já estar a contar viver as festas na pesca, "custa mais" vivê-lo aprisionado por causa do vírus. "É diferente do que estar a trabalhar. Estar parado é mais duro para a cabeça. O psicológico não é igual, só se pensa nisso e não há maneira de sair. Vamos ver se no próximo teste nos mandam embora ou não", comentou.
A tripulação voltará a ser testada amanhã, quarta-feira, 29. Tanto o mestre da embarcação, como Benjamim e seis homens testaram negativo. O pescador que ontem cumpriu aniversário diz-se no limite da sua paciência. "O próximo teste que fizer, se me sair negativo, vou para casa. Isso garanto, venha a Polícia Marítima, venha quem venha, vou para casa. Sou casado, tenho dois filhos e dois netos, que estão aqui muito perto de mim. Estou a vinte minutos de casa", disse.
