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O investigador Henrique Barros, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, analisa que, quando emerge um novo agente de infeção dois casos isolados no espaço são suficientes para uma epidemia, mas que "as pandemias não duram eternamente, elas mudam". É isso que vê acontecer em Portugal. O agente pode desaparecer, como aconteceu com o SARS-CoV-1, ou reaparecer e reiniciar um novo ciclo de infeção e de doença, realça o especialista que vê o território nacional a entrar numa situação de endemia que exige ter estratégia e pensar num caminho de saída.
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Para isso, urge rever, "porque já tivemos várias tentativas de sair desta situação", assinala Henrique Barros. Inicialmente antecipou-se que o tempo até essa saída seria de um ano. "Olhando para o que se viveu em Portugal, há muito que se esboçava uma proximidade à sazonalidade", garante o especialista, que acredita que o vírus tenha vindo para ficar. O que importa é como lidamos com isso, argumenta.
"Os antivirais ainda são muito pouco úteis", mas adotaram-se estratégias conhecidas, desde as restrições muito marcadas às medidas mais simples, como ser obrigatória a máscara em espaços fechados.
O especialista propôs-se responder então a uma pergunta essencial: os casos respondem à evolução das medidas ou as medidas respondem à evolução dos casos?
Comparando a evolução epidémica no inverno de 2021 e a situação do inverno de 2022, existe uma clara relação entre a subida de casos e as medidas, e este ano isso não se verifica numa relação tão estreita. Há um ano, então, as medidas refletiam mais a intensidade da pandemia, o que leva o investigador a concluir: pensam-se as medidas em relação à gravidade da doença e não tanto em relação ao número de casos.
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Quanto à variável da mobilidade populacional, "estamos a aproximar-nos deste ponto inicial" de antes da pandemia, aponta. Este movimento em direção à saída deve, contudo, ser acompanhado da compreensão de que o vírus está para ficar.
"No caminho de saída discutimos muito o que ainda vamos reduzir mais. Portugal teve menos limitações, mas os restantes países não fecharam as escolas."
O especialista garante, nesta altura que "o vírus está endémico, objetivamente está", mas é rápido a esclarecer que isto não significa que não seja grave, e exemplifica ilustrando: a tuberculose e a malária são endémicas e são graves.
"Vivemos uma infeção sazonal. É para isto que devemos preparar-nos."
Numa amostra de 230 casos da fase atual, 98% destes adultos têm anticorpos (não é necessariamente ter imunidade, mas é um sinal muito forte); 18% tinham histórico de infeção; 96,5% estão vacinados. Isto significa que a infeção natural não gera imunidade duradoura ao longo da vida, "temos de fazer alguma coisa".
Com a testagem acelerada, "já não podemos dizer que há, para cada caso diagnosticado, dez casos por diagnosticar". Com todos estes dados, Henrique Barros sustenta que "30% da população contactou efetivamente com o vírus".
Para agora enfrentar a endemia e a sazonalidade, é necessário manter uma vigilância cuidada, já que, se as pessoas deixarem de fazer testes e se forem frouxas quanto aos contactos, será prolongado o caminho para a saída, que "existe".
Henrique Barros finaliza deixando um alerta à plateia da reunião no Infarmed: o tempo de convivência com o vírus ainda é muito curto, pelo que ainda há muito para aprender.
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