- Comentar
É mais um episódio na longa novela sobre a intenção de se instalar um parque eólico na serra de Santa Comba, em Trás-os-Montes, que tem a maior concentração de pintura rupestre do país.
Relacionados
UNESCO pede intervenção do presidente da Assembleia da República para suspender parque eólico
Parque eólico de Santa Comba. Estudo de impacto ambiental "é uma fraude"
Nas últimas semanas, a comunidade científica tem vindo a contestar o projeto por estar previsto para uma área da serra, no concelho de Mirandela, que está em processo de classificação como Sítio de Interesse Público. Até o próprio organismo que representa a UNESCO em Portugal já apelou ao Presidente da Assembleia da República para suspender a instalação dos seis aerogeradores.
Agora, indiferente a todos estes argumentos, o operador, que se propõe investir cerca de 30 milhões de euros, diz estar na posse de toda a documentação legal para avançar com a obra, ainda antes do final do ano, e não entende todo o ruído em redor deste assunto, até porque acredita que o parque eólico e a preservação das pinturas rupestres são compatíveis.
Ouça aqui a reportagem da TSF
O presidente da P4, a empresa que pretende instalar o parque eólico, começa por desvalorizar os recentes relatos contra o projeto. "Chamar-lhes comunidade científica não faz sentido porque são meia dúzia de arqueólogos e a população não está contra", afirma Vieira de Castro, lembrando que o projeto começou com um concurso público em 2008 e que até agora tem sido um caminho longo, mas assegura ter na sua posse todas as licenças e pareceres das entidades estatais para poder avançar com a obra, pelo que não percebe tanta contestação.
Subscrever newsletter
Subscreva a nossa newsletter e tenha as notícias no seu e-mail todos os dias
"Gravuras que foram descobertas há 32 anos, segundo eles dizem, depois em 2015 descobriram mais não sei quê e quiseram fazer a abertura do procedimento de classificação, mas até hoje nada foi feito e agora que o parque eólico tem todas as licenças, passou por tudo quanto era crivo, todos os pareceres da APA com tudo escrutinado até ao tutano", refere Vieira de Castro.
O presidente da P4 também repudia as recentes declarações de um botânico espanhol, Antonio Crespi, professor da UTAD, ao afirmar que o estudo de impacte ambiental é uma fraude. "Isto não é aceitável porque há um arqueólogo coloca em causa as próprias instituições que lideram estes processos", diz Vieira de Castro acreditando que o parque eólico e as pinturas rupestres podem ser compatíveis. "Da nossa parte, não há nenhum inconveniente para podermos ter as gravuras e o parque eólico, até porque o parque eólico vai permitir manter os caminhos de acesso às gravuras senão ninguém lá vai", acrescentando que "as gravuras estão nas paredes, no solo não há e não é expectável que haja porque o solo foi todo removido devido à plantação de sobreiros e pinheiros e ali só existe uma turbina que está a 200 metros dessa parede, as restantes estão muito longe". E a licença da APA é válida até 2025.
Apesar de estar a decorrer a consulta pública do processo de classificação como Sítio de Interesse Público numa área que abrange o parque eólico, o presidente da P4 diz não ter recebido qualquer indicação de que não pode avançar com a obra. "Nada, zero. A única coisa que sei é que temos todos os elementos e podemos começar a obra hoje se quisermos, só ainda não avançamos porque temos um arqueólogo contratado por nós para fazer um estudo prévio, porque a licença da DIA é obrigatório fazer o acompanhamento de tudo quando se mexe no solo e que depois dará o seu parecer às entidades competentes", adianta Vieira de Castro que diz estar pronto a avançar com a obra ainda antes do final do ano, com a primeira fase dos trabalhos a terminar em maio, sendo retomados em setembro, prevendo-se a conclusão para o final de 2023.