- Comentar
A frase é já um lema dos camionistas que, por todo o Reino Unido, têm mostrado indignação contra a proposta do Governo britânico para ajudar a resolver a falta de profissionais do setor. O executivo liderado por Boris Johnson quer atribuir vistos como estratégia para atrair e contratar mais camionistas, mas só os concede por três meses, até ao Natal, para que nada falte nas lojas e casas britânicas.
Hugo Ribeiro, motorista de mercadorias português, está há mais de 20 anos no Reino Unido e, à TSF, explica que a falta de profissionais da sua área é uma consequência da degradação das condições de trabalho. "Muitas empresas exigiam, exigiam, exigiam... O próprio Estado sobrecarregou muito os motoristas em horário laboral", lamenta o português que vive agora na cidade de Rugby, onde teve origem o desporto com o mesmo nome.
Conta que chegou a viver episódios em que, chegados ao destino, os motoristas não podiam utilizar as casas de banho. "Fomos muitas vezes olhados de lado."
A situação, provocada pelo Brexit, tem saltado à vista nos supermercados, onde é possível notar "falhas, principalmente nos produtos de primeira necessidade, os chamados produtos frescos". Seja pão, hortaliças ou fruta, "nos produtos com pouca validade há sempre uma falha". E nas bombas de gasolina a situação não é diferente.
Hugo Ribeiro conversou com a jornalista Ana Sofia Freitas. Ouça aqui.
Subscrever newsletter
Subscreva a nossa newsletter e tenha as notícias no seu e-mail todos os dias
Hugo conta à TSF que, há poucos dias, parou numa área de serviço para se abastecer com gasóleo. "Disseram-me que só podia pôr 50 litros."
Respondeu: "Minha senhora, com 50 litros chego ao fim da rua e já preciso outra vez." Mas, reconhece, "são as ordens que têm..."
Para tentar travar a falta de bens essenciais, os salários dos camionistas foram aumentados, mas o problema não parece ter uma solução simples. Hugo Ribeiro toma a palavra: "Se nós temos aqui mil emigrantes, a fábrica de pão faz mil pães. Se 200 vão embora, já só ficam 800 e a fábrica já não precisa de fazer mil, só vai precisar de fazer 800. E para fazer 800 já não precisa de tanta farinha, já encomenda menos. E quem produz farinha já não precisa de ter tantos funcionários." No fundo, "é uma bola de neve".
O esforço do Governo liderado por Boris Johnson para contratar motoristas com carta de pesados passa pela concessão de vistos, mas só até ao Natal, algo que tem indignados estes profissionais, que "apoiam os que não aceitem" essa solução.
"O visto não é permanente, mas sim de três meses. Muitos sentem-se indignados e acham que não é justo." Desta oposição já nasceu uma "frase muito precisa", utilizada como bandeira: "O motorista é para a vida e não apenas para o Natal."
Exército entra em ação na segunda-feira
O lema é para manter se as condições de trabalho não mudarem rapidamente e, em especial, a tempo de salvar as compras de Natal. Já na noite desta sexta-feira, o Governo britânico anunciou que o Exército vai, a partir de segunda-feira, começar a assegurar o transporte de combustível para as bombas de gasolina.
O efetivo de 200 militares - 100 deles motoristas - é uma tentativa do executivo para "providencia apoio temporário num esforço alargado do Governo para aliviar a pressão sobre as bombas de gasolina e agir no combate à falta de motoristas".