Peritos defendem que linhas vermelhas da matriz de risco têm de ser alteradas

Cores da atual matriz dão uma perceção errada à população. Próxima reunião do Infarmed deverá ser um momento de mudança no combate à pandemia.

Vários peritos que têm aconselhado o Governo admitem que as linhas vermelhas da matriz de risco têm de ser alteradas e que a avaliação deste risco tem de ter cada vez mais em conta outros indicadores e não apenas a incidência da Covid-19 e a taxa de transmissibilidade (Rt).

A TSF falou com dois dos peritos envolvidos nos trabalhos de preparação da reunião do Infarmed de amanhã, terça-feira, - que por agora preferem não ser identificados - e ambos estão de acordo que a matriz que continua a ser divulgada diariamente pela Direção-Geral da Saúde (DGS), de acordo com aquilo que foi definido em maio, já não faz sentido, a começar pelas cores.

Um desses especialistas explica que desta vez nem foi o Governo a solicitar uma proposta de mudanças ao plano de resposta à pandemia e à matriz, mas foram os peritos que chegaram a um consenso de que é preciso mudar porque a situação, agora, é muito diferente daquela que existia em maio, nomeadamente por já existir mais de 50% da população com a vacinação completa, num cenário de incidência elevada (em comparação com as balizas do início da pandemia), mas de pandemia controlada, com uma "boa margem de manobra".

Os pormenores finais ainda estão a ser finalizados, mas já é certo que as atuais linhas vermelhas que fazem com que um concelho passe para uma situação de alerta ou risco elevado (120 ou 240 novos casos por 100 mil habitantes) estão ultrapassadas.

A matriz atual que coloca o país com uma cor vermelha desde que tenha mais de 120 novos casos por 100 mil habitantes já não faz sentido e é preciso, na prática, subir essa linha vermelha para o patamar dos 240 ou mesmo 480 casos.

Um dos peritos explica que o maior problema da matriz, hoje, são as cores que dão uma perceção errada à população, mas, além disso, é preciso que se passe a olhar, igualmente, para outros indicadores que estavam na primeira proposta de matriz elaborada em maio pelos especialistas - por exemplo, o andamento da vacinação e os doentes em cuidados intensivos.

Como a TSF noticiou há duas semanas, em várias regiões do país hoje o limite de camas para cuidados intensivos de doentes com Covid-19 já são inclusive superiores àquilo que é apresentado como linhas vermelhas pela DGS e estes números também deverão ser revistos.

Um dos peritos acredita que a reunião de terça-feira do Infarmed deverá ser um momento muito importante e que se o Governo aceitar as propostas esta marcará uma viragem na matriz e no plano de resposta à pandemia.

Aliás, se as linhas vermelhas da matriz não mudarem, a figura hoje apresentada diariamente pela DGS arrisca-se a ter de ser alargada, em breve, com um aumento da escala. Com 427,5 novos casos por 100 mil habitantes a incidência já está quase no limite físico da figura (480), depois de há semanas esta já ter sido alargada do limite inicial de 240.

Outro perito defende que é normal que as pessoas se interroguem e fiquem mesmo perplexas ao olhar para uma matriz que atualmente nos coloca, há semanas seguidas, no vermelho, apesar de a pandemia não estar, hoje, numa situação "assim tão grave", sendo preciso, claramente, subir a linha vermelha para que esta fique bem acima da atual incidência de 120.

Por outro lado, será preciso não olhar apenas para a matriz, mas também para os outros indicadores de impacto e gravidade da pandemia, pois muitos novos casos (incidência) não significam, obrigatoriamente, maior gravidade, nesta fase da pandemia.

Se o Governo aceitar as propostas dos peritos que passarão por uma subida da linha vermelha da incidência isso significa, na prática, que as restrições que hoje existem em mais de uma centena de municípios do Continente, abrangendo mais de 80% da população, serão aliviadas.

No entanto, parece certo que ainda é bastante cedo para acabar com todas as medidas de prevenção do contágio sendo preciso, em paralelo, apostar na vigilância epidemiológica, como defende um dos peritos ouvidos pela TSF.

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