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O antigo padre do Funchal que estava desaparecido desde 2018 após ter sido alvo de uma queixa por suspeita de abuso sexual de um menor confessou o crime e tentou entregar-se na Procuradoria-Geral da República (PGR), mas não foi recebido.
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A notícia é avançada pelo Observador. Anastácio Alves dirigiu-se esta quinta-feira à sede da PGR em Lisboa, dizendo-se pronto para "assumir as suas responsabilidades" e para ser constituído arguido e notificado da acusação do Ministério Público, que lhe imputa cinco crimes de abuso sexual de criança e adolescente.
Indicaram-lhe que se devia dirigir ao Gabinete de Documentação e Direito Comparado, já que foi acionada a cooperação internacional neste caso, num edifício ali perto. No entanto, também esse gabinete disse que "não tinha competência e disse que o pedido de cooperação judiciária era para ser cumprido em França".
Anastácio Alves e a equipa de advogados que o acompanhava regressaram à PGR e pediram para falar com a Procuradora-Geral da República, Lucília Gago.
Não foram recebidos pela procuradora, e uma funcionária acaba por lhes indicar que o antigo padre devia, afinal, deslocar-se à Madeira, onde fica o tribunal competente pelo processo.
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O bispo do Funchal, Nuno Brás, saudou a atitude do ex-padre.
"Só posso saudar a colaboração com a justiça que ele agora manifesta. Da nossa parte, sempre colaborámos com a justiça e estamos dispostos a colaborar sempre com ela, tal como fizemos com a comissão independente. Este ato dele contribui para o esclarecimento dos factos", afirmou Nuno Brás em declarações à SIC Notícias.
Se receber novas queixas, o bispo garante que vai ter tolerância zero.
"Tem de haver uma confirmação mínima da veracidade da queixa e a entrega imediata ao Ministério Público. Comigo sempre houve tolerância zero. Só posso responder por mim, mas nem se põe outra hipótese", acrescentou o bispo do Funchal.
Ouça as declarações de Nuno Brás à TSF
Anastácio Alves acabou por ficar em liberdade. A defesa vai agora fazer um requerimento ao Ministério Público do Funchal para que possa ser constituído arguido e notificado da acusação em Lisboa.
Está indiciado por cinco crimes de abuso sexual de menores pelo abuso de uma criança de 13 anos em quatro situações distintas e numa quinta vez, em 2017, já o rapaz tinha 14 anos (sendo o crime ato sexual com adolescente), sempre na casa da família da vítima, na Madeira.
O então padre já tinha sido investigado em 2005 e a diocese simplesmente mudou-o de paróquia. Num segundo momento, em 2007, uma nova investigação levou a Igreja a mudar o padre de país, primeiro para a Suíça e depois França.
Só após três denúncias o então bispo do Funchal, D. António Carrilho, decidiu suspender Anastácio Alves, nunca comunicando o caso às autoridades. O paradeiro do antigo padre não era conhecido até agora.