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Portugal poderá estar "a caminho" de ser um dos países da União Europeia "com maior incidência" de casos de covid-19 devido à variante Delta do SARS-CoV-2, disse esta terça-feira à Lusa o matemático especialista em epidemiologia Óscar Felgueiras.
O investigador da Universidade do Porto afirmou que "Portugal está a caminho de ser um dos países com maior incidência na União Europeia", considerando, no entanto, que o "impacto hospitalar" do crescimento do número de casos será moderado pela vacinação.
"Não só vamos ultrapassar a média europeia, como vamos ultrapassar a maior parte dos países da União Europeia. Vai ser rápido, mais uma ou duas semanas estamos à frente de quase todos os países", salientou o especialista, lembrando que o país está "bastante exposto" à variante Delta do SARS-CoV-2, associada à Índia.
"Temos aqui algumas forças em conflito", disse, referindo-se ao processo de vacinação, ao desconfinamento, à mobilidade da população e à nova variante, que "está a ganhar rapidamente prevalência [em Portugal] e que tem um impacto muito grande na incidência", contrariamente aos países do centro e leste europeu.
Questionado sobre se o aumento da taxa de incidência justificaria um retrocesso nas medidas de desconfinamento, Óscar Felgueiras afirmou que "é mais uma questão política do que propriamente de saúde pública".
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"Do ponto de vista da saúde pública, estamos numa situação que é de claro agravamento, mas também sabemos que com o efeito das vacinas, o impacto hospitalar é provavelmente menor do que aquele que foi no passado, nomeadamente, em termos de óbitos e de internamentos", justificou.
Para o especialista, a questão passa por "combinar" o aumento da incidência com o impacto económico e a saúde mental dos portugueses, considerando que tal depende também "um pouco do próprio interesse dos concelhos".
Quanto à variante Delta, Óscar Felgueiras disse que o momento de "super transmissão" que ocorreu em 12 de maio na região de Lisboa e Vale do Tejo "pode ter favorecido" a sua propagação.
"Este momento de super transmissão pode ter feito com que a proporção da variante Delta possa ter subido para um nível diferente daquele que é o do país. Isso, por si só, contribui para que, mesmo durante comportamentos semelhantes, o contágio seja maior", referiu.
De acordo com o especialista, a nova variante terá "tendência a alastrar" alicerçada no comportamento da população que tem sido "incompatível" com o controlo de novos contágios.
"Houve inicialmente um foco que ainda existe no concelho de Lisboa, que se destaca dentro da região de Lisboa e Vale do Tejo, mas está a alastrar a zonas vizinhas como Cascais, Sintra e Setúbal", referiu.
Óscar Felgueiras salientou ainda ser "improvável para já uma estabilização abaixo do patamar [240 novos casos por 100 mil habitantes] na próxima semana, o que segundo as regras atuais implica um risco de recuo" no desconfinamento no concelho de Lisboa.
Portugal registou nas últimas 24 horas mais 625 casos de covid-19, mas nenhuma morte, tendo o número de pessoas internadas subido para 340, das quais 77 estão em cuidados intensivos, segundo dados da DGS.
A Covid-19 já matou em Portugal 17.047 pessoas dos 858.072 casos de infeção confirmados.