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A primeira denunciante da Lava Jato foi detida esta terça-feira num hotel de luxo em Lisboa na sequência de uma operação conjunta entre as polícias portuguesas e brasileiras no caso do avião com droga que transportou João Loureiro em janeiro de 2021.
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Em conferência de imprensa esta tarde, o diretor da Unidade de Combate ao Tráfico de Estupefacientes da Polícia Judiciária, Artur Vaz, confirmou a detenção de uma mulher estrangeira de 55 anos em Lisboa, "integrante de organização criminosa a nível elevado", em cumprimento de um mandado de detenção internacional emitido pelas autoridades brasileiras.
Segundo a imprensa brasileira, que cita fontes da Polícia Federal do Brasil, a mulher em questão é Nelma Kodama, detida no âmbito da Operação Descobrimento, que tem como objetivo desmantelar uma organização criminosa especializada no tráfico internacional de cocaína. De acordo com as autoridades portuguesas, a quantidade de droga em causa denuncia que esta "não tinha por destino exclusivo o território nacional".
A Polícia Federal avança que estão a ser cumpridos 43 mandados de busca e apreensão e sete mandados de prisão preventiva nos estados brasileiros da Bahia, São Paulo, Mato Grosso, Rondônia e Pernambuco.
Em Portugal, acompanhada por polícias brasileiros, a PJ cumpre três mandados de busca e apreensão e dois mandados de prisão preventiva no Porto e em Braga. Fonte da Polícia Federal brasileira disse à Lusa que os "dois presos em Portugal são brasileiros".
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O jornalista Nuno Domingues traça o perfil de Nelma Kodama, que já deu música a uma comissão parlamentar.
Nelma Kodama foi a primeira delatora da Lava Jato e foi condenada a 18 anos de prisão em 2014 devido ao crime de lavagem de dinheiro. A sua pena de prisão terminou, contudo, em 2017, graças a um indulto decretado pelo então Presidente brasileiro, Michel Temer.
Conhecida pelas autoridades e pela esfera pública brasileira, em 2015 cantou "Amada Amante" durante uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a Petrobras.
A brasileira foi detida em Portugal no âmbito de investigações que tiveram início em fevereiro de 2021, quando o avião Dassault Falcon 900 da empresa OMI, pertencente a um grupo privado português de aviação, aterrou no aeroporto internacional de Salvador para abastecimento e, após ser inspecionado, foram encontrados cerca de 595 quilogramas de cocaína escondidos na fuselagem da aeronave.
A partir da apreensão, a Polícia Federal conseguiu identificar a estrutura da organização criminosa que atuava nos dois países, composta por fornecedores de cocaína, mecânicos de aviação e auxiliares (responsáveis pela abertura da fuselagem da aeronave para acondicionar a carga), transportadores (responsáveis pelo voo) e doleiros (responsáveis pela movimentação financeira do grupo).
A Justiça brasileira decretou ainda medidas patrimoniais de apreensão, sequestro de imóveis e congelamento de valores em contas bancárias usadas pelos suspeitos.

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Em 27 de janeiro de 2021, o empresário João Loureiro descolou do Aeródromo Municipal de Tires, em Cascais, rumo ao Brasil, tendo aterrado no aeroporto de Salvador, no estado da Bahia, e posteriormente, descolado de Salvador para o aeroporto de Jundiaí, no Estado de São Paulo, onde ficou estacionado cerca de uma semana.
O Falcon 900 descolou depois de Jundiaí rumo a Salvador e, durante o voo, o comandante detetou falhas mecânicas, tendo solicitado uma inspeção técnica à aeronave.

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De acordo com o manifesto de voo da Omni, a que a Lusa teve acesso, na viagem de Jundiaí para Salvador, realizada em 6 de fevereiro de 2021, seguiam a bordo, como passageiros, os empresários João Loureiro e Mansur Herédia, de nacionalidade espanhola, que se encontra em paradeiro incerto.
Em abril do ano passado, as autoridades brasileiras descartaram qualquer ligação do advogado João Loureiro ao caso de tráfico de cocaína num avião.

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*Notícia atualizada às 18h17