Proprietários só ficam com 11% dos negócios gerados pela floresta

Miguel Freitas, ex-secretário de Estado das Florestas, tem defendido que "é possível gerar confiança entre quem produz e quem transforma", para que o valor que é criado nesta fileira seja "mais bem distribuído".

Os proprietários florestais só ficam com 11% dos 9.000 milhões de euros de negócios gerados pelo setor. As contas são do ex-secretário de Estado das Florestas, Miguel Freitas, que participou como professor da Universidade do Algarve na sétima Conferência Nacional dos Baldios, em Vila Real.

Miguel Freitas sublinhou que todas as entidades públicas e privadas com interesse na floresta devem estar no mesmo lado para valorizar mais um setor cujo valor já não é modesto: "A floresta portuguesa gera 9.000 milhões de euros de volume de negócios todos os anos, mas a produção fica apenas com cerca de 1.000 milhões. É uma relação de nove para um. Isto quer dizer que a riqueza está mal distribuída", destacou.

Na iniciativa organizada pela BALADI - Federação Nacional dos Baldios, o professor da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade do Algarve realçou que é "absolutamente essencial" o "entendimento entre as indústrias e a produção" para que possam "acordar preços justos para remunerar o trabalho na floresta".

Miguel Freitas tem defendido que "é possível gerar confiança entre quem produz e quem transforma", para que o valor que é criado nesta fileira seja "mais bem distribuído". É possível através de "uma mutualização de riscos para que haja uma mutualização de proveitos" entre "a indústria que quer matéria-prima a curto prazo e quem produz a médio/longo prazo".

Para equilibrar a distribuição de rendimentos, outra solução pode passar pelas estruturas que já existem no território. São os casos das Zonas de Intervenção Florestal, que gerem cerca de 1,8 milhões de hectares, e dos baldios, que são responsáveis quase 400 mil hectares. Juntos representam 2,2 milhões dos 3,6 milhões de hectares que existem em Portugal e que, de acordo com o ex-governante, devem ser geridos de "forma agrupada".

Ainda assim, para que seja bem-sucedida é necessário estabelecer "acordos a 20 anos", prazo essencial para "dar capacidade aos baldios para intervirem através de técnicos, equipas de sapadores florestais e instrumentos de gestão e apoio às suas atividades". Miguel Freitas entende que "tem sido a grande questão mal resolvida do ponto de vista das políticas públicas", que vivem muito de "ciclos de 10 anos marcados pelos fundos comunitários".

O professor da Universidade do Algarve defendeu, ao mesmo tempo, que num acordo para a floresta a 20 anos se privilegie também a agricultura comunitária. "Porque é a única forma de termos um bom ordenamento e rentabilidade", dado que tanto uma como a outra "são compatíveis".

Sobre o próximo quadro comunitário de apoio, Miguel Freitas sublinhou que é determinante que o dinheiro "chegue rápido aos territórios". Que se aumente o ritmo "simplificando os processos das candidaturas" e não repetindo as "enormes complexidades no apoio à floresta" que o ex-secretário de Estado verificou no Plano de Desenvolvimento Rural 2020. Lembra-se bem de que quando chegou ao cargo, no início da anterior legislatura, verificou que era necessário "um ano e quatro meses para aprovar um projeto florestal".

Se não se desburocratizarem e acelerarem os processos, Miguel Freitas não tem dúvidas de que "a perda de valor que os incêndios florestais trazem todos os anos à floresta, não conseguirá ser compensada pelo ritmo de investimento".

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