Queixas avançam esta semana. Trabalhadores dos call centers impedidos de aderir a greve, acusa sindicato

O sindicato dos trabalhadores de call center afirma que várias empresas, nomeadamente a EDP, forçaram os trabalhadores a cumprir serviços mínimos durante a greve de quatro dias, quando esses serviços não foram definidos. As queixas vão avançar esta semana para o Ministério do Trabalho e a ACT.

O sindicato dos trabalhadores de call center, "Tás logado?", vai avançar com uma queixa nos tribunais e na ACT contra várias empresas de trabalho temporário. O sindicato denuncia que várias empresas forçaram trabalhadores a apresentarem-se nos locais de trabalho para cumprir os serviços mínimos durante a greve de quatro dias.

Danilo Moreira, o presidente do sindicato dos trabalhadores de call center, afirma, em declarações à TSF, que os serviços mínimos não foram definidos.

"Vários trabalhadores dos call centers, particularmente os que estão ligados aos call centers da EDP, foram informados individualmente que não podiam aderir à greve no dia 31 de dezembro e dia 1 de janeiro com a desculpa de que havia serviços mínimos", explica, sublinhando que "com a convocatória desta greve", não foram definidos serviços mínimos.

"Isto foi uma forma de tentar dissuadir os trabalhadores de aderirem à greve e constituir aqui uma contraordenação além de ser uma total mentira", considera.

Por isso mesmo, o sindicato vai formalizar estas denúncias já na próxima semana.

"Vamos apresentar queixa ao Ministério do Trabalho, à ACT, também vamos responsabilizar a EDP, porque basicamente estes trabalhadores, embora estejam contratados através das empresas de trabalho temporário, prestam serviço para os clientes da EDP, e também vamos expor esta situação aos grupos parlamentares", refere.

O ano é novo, mas as reivindicações dos trabalhadores dos call centers são antigas. Querem, antes de tudo, ver a profissão regulamentada. Um"grito de alerta" para por fim à discriminação que estes trabalhadores ainda sentem.

"A nossa profissão acaba por ser muito marginalizada mesmo pela sociedade em geral e é tipo um grito de alerta no sentido, sobretudo durante a questão da pandemia", diz, acrescentando que "as pessoas só se lembram dos call centers quando são contactadas".

Ainda assim, é positivo o balanço feito pelo sindicato dos trabalhadores de call center à greve de quatro dias, realizada com o objetivo de alertar para a importância do setor durante a pandemia e chamar a atenção do Governo para os problemas laborais.

"Fazemos um balanço positivo da greve de quatro dias, realizada nos dias 24, 25 e 31 de dezembro e 1 de janeiro", disse à Lusa o dirigente sindical Danilo Moreira.

O sindicalista acrescentou, no entanto, não ser possível indicar números concretos de adesão à greve, tendo em conta que existem mais de 400 'call centers' no país e cerca de 110 mil trabalhadores no setor, muitos em regime de teletrabalho.

"Sabemos que houve trabalhadores que aderiram aos quatro dias, mas outros que aderiram só a dois dias por questões de salário", indicou Danilo Moreira.

O dirigente do STCC sublinhou que a greve é sobretudo "um alerta para os governos, que continuam a apostar nas empresas de trabalho temporário, e uma chamada de atenção para a importância desta atividade durante a pandemia".

A greve é também "uma das etapas" para os trabalhadores conseguirem aumentos salariais e para lutarem pelo reconhecimento da profissão, acrescentou.

Danilo Moreira lembrou que há quase três anos foi discutida no parlamento uma petição com o objetivo de esta atividade ser considerada uma profissão regulamentada e que o Governo se comprometeu na altura a realizar um estudo nesse sentido, mas até agora nada foi feito.

Estavam abrangidos pelo pré-aviso de greve todos os trabalhadores que prestem serviço na área dos 'call centers' e 'contact centers', em trabalho presencial ou teletrabalho, bem como nas áreas administrativas, em todo o território continental e nas regiões autónomas.

Já os trabalhadores que prestam serviços "socialmente imprescindíveis", como na linha SNS24 ou linha apoio à vida, bem como no apoio ao INEM ou às forças de segurança, estiveram excluídos deste aviso.

"Somos nós, trabalhadores/as de 'call center', que damos voz, suporte técnico ou ambas no apoio de marcas como NOS, Meo, Facebook, Google, Apple, Microsoft, Tranquilidade, Metlife, etc.. Somos nós que estamos nas linhas de apoio e suporte na Caixa Geral de Depósitos, no Santander, nós somos a 'voz' da EDP e até do SNS 24. Como consequência da realidade atual [...], os trabalhadores de 'call center' fazem cada vez mais trabalho essencial a todas as pessoas", apontou o sindicato, numa nota divulgada na semana passada.

Assim, conforme referiu, as empresas de 'outsourcing' (terceirização) e de trabalho temporário expandiram o seu negócio, o que para os trabalhadores deveria conduzir à eliminação da precariedade, do "falso trabalho temporário", do assédio laboral e das "jornadas e ritmos de trabalho extenuantes", e ao aumento dos salários.

"Infelizmente, e num setor cujas entidades patronais incluem alguns dos maiores grupos económicos e 'marcas' nacionais e internacionais [...], os trabalhadores continuam a viver de baixos salários", notou, acrescentando que estes profissionais, assumem, cada vez mais, um trabalho considerado como "imprescindível", apesar de continuarem "sem sequer terem a sua profissão reconhecida e valorizada".

* com Lusa

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