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O coordenador da Plataforma de Apoio aos Refugiados garante que os refugiados que chegam a Portugal são acompanhados psicologicamente, ainda que facultativamente, durante os 18 meses do Programa de Acolhimento de Pessoas Refugiadas.
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Em declarações à TSF, André Costa Jorge notou que "ninguém faz acompanhamento psicológico obrigado", dado que "há sempre uma relação que se constrói e a pessoa tem, de alguma forma, de reconhecer a necessidade desse apoio psicológico continuado".
Necessidade de apoio tem de ser também reconhecida pelo visado.
Nos casos em que este apoio é recusado pelas pessoas acolhidas em Portugal, "quando sentem que não têm essa necessidade", as equipas de acolhimento "registam isso no processo", mas nada mais pode ser feito: "Nem nós, nem ninguém pode obrigar outra pessoa a sentar-se no gabinete de apoio psicológico."
"Há aqui uma dimensão de liberdade, de vontade, e de reconhecimento da própria pessoa, de que precisa de ser ajudada. E isso é para todas as situações, não é apenas para refugiados, é para qualquer pessoa", nota.
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Tal como esta ajuda pode ser recusada, pode também ser prolongada além dos 18 meses do programa de acolhimento. Quem mantenha "um conjunto de debilidades ou vulnerabilidades" é aconselhado a frequentar um acompanhamento "mais intensivo ou mais permanente", desenhado com o visado.
"Isso vai depender, por um lado, de a pessoa sentir essa necessidade e querer manter esse acompanhamento, mas também depende naturalmente dos recursos que as próprias instituições têm no acolhimento", assinala André Jorge Costa.
Acompanhamento pode ser prolongado além dos 18 meses.
Dado as pessoas refugiadas "não permanecem o tempo todo no mesmo lugar", há uma "bolsa de psicólogos espalhados pelo país" que podem acompanhar - mesmo que à distância - e monitorizar estas situações "de acordo com os recursos que estão disponíveis".
O autor do ataque desta terça-feira no centro ismaelita de Lisboa é um refugiado afegão que terá chegado a Portugal em outubro de 2021, já depois de a mulher ter morrido num campo de refugiados na Grécia.
Sem conhecer o caso em concreto, o coordenador da plataforma de apoio recusa "apontar falhas" ao sistema mas reconhece que "pode ter havido aqui alguma situação, algum pico qualquer psicológico que tenha levado ou motivado uma ação tão crítica e tão lamentável".
"Quero acreditar que foi um ato isolado"
André Costa Jorge não deixa de apontar que, nos mais de dez anos de experiência que já leva no acolhimento de refugiados "esta é a primeira vez em Portugal que temos uma situação tão grave".
"Quero acreditar que foi um ato isolado e que a explicação ainda está por perceber", remata, apelando a que não se tirem conclusões precipitadas da forma como Portugal acolhe refugiados.
Esta tarde, também em declarações à TSF, a psicóloga Faranaz Keshavjee, especialista em trauma e familiar de uma das mulheres assassinadas, alertou que há refugiados a entrar em Portugal com "problemas de saúde mental gravíssimos", autênticas "feridas abertas", e que Portugal não está "imune" a que se repitam ataques como o desta manhã.