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Coronavírus em Portugal

Rt já esteve 7 meses acima de 1. Particularidades de um indicador que vai nortear as nossas vidas

Rui Rio anunciou na semana passada que o Rt estava em 0,9. Um dia depois António Costa anunciou 0,78. Os dois podem ter razão.

Desde o início da pandemia, num gráfico de vários altos e baixos, o índice de transmissibilidade da Covid-19 esteve, ao todo, em diferentes momentos, mais de 200 dias acima de 1.

A partir desta segunda-feira, o país inicia um novo desconfinamento com os olhos postos em dois indicadores identificados pelo Governo como os mais relevantes para travar ou recuar esse processo: o índice de transmissibilidade (o chamado Rt, que indica quantas pessoas são em média contagiadas por cada caso positivo) e a taxa de incidência da Covid-19 por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias.

Segundo os critérios anunciados pelo primeiro-ministro na quinta-feira, o calendário anunciado para desconfinar mantém-se inalterado se o Rt continuar abaixo de 1 e a taxa de incidência abaixo dos 120.

António Costa avisou mesmo - e o Governo reforçou este sábado no Twitter - que, se o limite do Rt for ultrapassado, o levantamento de restrições é interrompido.

Cinco meses acima de 120 casos por 100 mil habitantes

Pelos cálculos da TSF aos dados divulgados diariamente pela Direção-Geral da Saúde, os 120 novos casos de Covid-19 por 100 mil habitantes foram atingidos em 40% dos dias desde o início da pandemia - cerca de cinco meses -, mas apenas num período específico da pandemia entre o início da segunda vaga e o final da terceira, ou seja, entre 10 de outubro e 7 de março.

Nem antes nem depois destas datas o país enfrentou uma taxa de incidência superior ao novo limite de risco agora definido pelo Governo.

A instabilidade do Rt e os 0,90 de Rui Rio

Pelo contrário, o Rt é muito mais instável e o indicador tem alguns defeitos que levaram parte dos peritos habitualmente envolvidos nas reuniões do Infarmed a preferirem que não seja analisado e usado de forma tão rígida.

Em primeiro lugar, o cálculo é muito influenciado pelas metodologias usadas pelos diferentes investigadores.

O Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), entidade oficial do Estado responsável por este cálculo, tem em conta a data dos sintomas, o que gera muitos casos que não são contabilizados por falta de dados.

Pelo contrário, investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto e da Universidade de Lisboa optam por fazer os cálculos usando a data de notificação de cada caso positivo.

Segundo o primeiro método, o Rt divulgado na semana passada pelo INSA não ultrapassava os 0,84, mas pelo segundo chegou-se mesmo aos 0,90, aproximando-se do valor de 1 que levou Rui Rio a sair preocupado de uma reunião com o Presidente da República.

Escassas infeções e um Rt muito alto

Por outro lado, investigadores ouvidos pela TSF explicam que o Rt tem outra limitação: num cenário de muito poucos casos de Covid-19 mas de aumento, facilmente o indicador ficará acima da barreira de 1 - tal como avisou este domingo o matemático Óscar Felgueiras, um dos especialistas a quem o Governo recorreu para se aconselhar sobre o plano de desconfinamento.

207 dias acima de 1

Segundo os dados do INSA, analisados pela TSF, o Rt nacional esteve, desde o início da pandemia, durante 207 dias, quase 7 meses - 54% do tempo -, acima de 1.

O índice de transmissibilidade esteve sistematicamente acima de 1 desde o início da pandemia em março de 2020, mais tarde durante grande parte de maio e junho, ficando acima dessa fasquia, de novo, entre agosto, setembro, outubro e parte de novembro, nomeadamente em períodos de verão em que o país tinha pequenas taxas de incidência, muito abaixo do atual limite de 120 novos casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias.

Pelo contrário, no final de novembro e boa parte de dezembro - até ao Natal - o Rt esteve abaixo de 1, apesar de taxas de incidência de 500-600 novas infeções.

A partir de 26 de dezembro, o Rt volta a ficar acima de 1, contribuindo para o agravamento da pandemia, num limite que só deixou de ser ultrapassado um mês depois, a 26 de janeiro, numa altura em que Portugal ainda tinha uma taxa de incidência de 1529 casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias.

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