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As críticas chegam de todos os lados, depois das notícias sobre o facto de o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) prever a concentração de urgências hospitalares e uma gestão dos hospitais mais vigiada com imposição de objetivos financeiros. O Fórum TSF ouviu os partidos, os representantes dos médicos e os dos enfermeiros sobre estas medidas que muitos dizem ser uma reedição da troika.
O líder parlamentar do PCP, João Oliveira, defende que se esta bazuka das urgências for em frente, é a saúde que rebenta, uma vez que, na perspetiva do deputado, a medida "não serve os interesses dos utentes, não serve o reforço do SNS, não serve a melhoria das condições de prestação de cuidados de saúde".

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"Eu acho que há ainda aqui uma dúvida que é preciso esclarecer - e isso só o Governo pode fazer - que é saber se estas medidas foram inscritas com intenção de não serem cumpridas e de apenas calar a Comissão Europeia ou se o Governo verdadeiramente inscreveu estas medidas com intenção de as cumprir. Agora, é um problema que isto seja assumido como uma opção do Governo, porque aquilo que é preciso é alargar a rede de cuidados de saúde do SNS, não é concentrar serviços", sustenta em entrevista ao Fórum TSF.
Já Cecília Meireles, do CDS, espera explicações do primeiro-ministro no parlamento. A líder da bancada parlamentar do CDS quer que António Costa esclareça "porque é que anuncia ao país umas coisas e depois se compromete com outras em Bruxelas"
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"É preciso que o Governo perceba que boa gestão e gestão eficiente não é sinónimo de gestão pelo Ministério das Finanças", defende.
António Maló de Abreu do PSD acusa o Governo de falta de transparência e de ir para além da austeridade da troika: "Parece-nos óbvio que uma parte das medidas revela o avanço da austeridade em Portugal, são medidas que vão para além da troika e que, algumas delas, do nosso ponto de vista, não parecem justificadas no momento atual".
Também no Fórum TSF, Moisés Ferreira do Bloco de Esquerda acusa o Plano de Recuperação e Resiliência de não investir nos profissionais de saúde.
"Os investimentos que estão previstos no PRR para a saúde mental, para os cuidados hospitalares, para os cuidados de saúde primários, estão a sua maioria para equipamentos. Ora, se no PRR não há nada previsto para profissionais, e se depois há um compromisso de conter despesa e aumentar a fiscalização das Finanças sobre o SNS, isso não vai dar resposta àquilo que é essencial, que é a necessidade de mais profissionais para o SNS", considera.
Por sua vez, Inês Sousa Real, do PAN, defende a descentralização em vez da concentração dos serviços: "É importante combatermos a excessiva centralização dos serviços que tem existido sobretudo nas grandes áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, para que possamos garantir também que estes fundos que agora vêm para o nosso país conseguem, acima de tudo, combater também as assimetrias e as desigualdades de acesso dos cidadãos."
Já o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, confessou estar bastante preocupado com o secretismo desta negociação com Bruxelas que podem levar a cortes cegos no Serviço Nacional de Saúde.
"O combate ao desperdício faz-se mantendo a qualidade e mantendo o acesso aos cuidados de saúde. Isto que vem ao de leve na sequência daquilo que a troika já fez e que, no fundo, é um complemento, tem que ver muito com diminuir o acesso aos cuidados de saúde e, objetivamente, diminuir a qualidade", conta à TSF.
Para Guadalupe Simões, do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, a centralização anunciada já existe.
"Já há alguma centralização em termos das respostas em algumas especialidades, nomeadamente oftalmologia, na Área Metropolitana de Lisboa. Portanto, se o objetivo for diminuir a capacidade de resposta das zonas mais periféricas no sentido de reforçar esses serviços nas áreas metropolitanas, isso significa diminuir a acessibilidade das pessoas aos cuidados de saúde", remata.