UTAD revolucionou Trás-os-Montes a partir do 25 de Abril

Setores da agricultura, floresta e pecuária foram os mais beneficiados por vários projetos desenvolvidos pela academia que começou a funcionar, em Vila Real, em 1975.

A comissão instaladora do que mais tarde viria a ser a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) tomou posse no dia 02 de março de 1974, poucos dias antes da Revolução dos Cravos. No entanto, só em 1975 começou a funcionar o Instituto Politécnico de Vila Real. Em 1979 passou a Instituto Universitário e em 1986 foi convertida em Universidade. Hoje ninguém duvida que foi um marco no desenvolvimento da cidade e da região.

O atual vice-reitor da UTAD para a Investigação, Eduardo Rosa matriculou-se em Engenharia Mecânica, em 1975, na Universidade de Coimbra. Na viagem com o pai de regresso a Chaves, onde residiam, passou na rua onde ficava o edifício onde nasceu o Instituto Politécnico de Vila Real. "Eu disse ao meu pai que me iria inscrever ali. Não tinha gostado do ambiente caótico que vi em Coimbra logo a seguir ao 25 de Abril", recorda.

Eduardo Rosa lembra-se que, na altura, Vila Real era uma "cidade muito pequena, quase só de serviços". Estudou ali, mais tarde foi professor e investigador, hoje é vice-reitor e, olhando para trás, afiança que a criação da UTAD marcou a história da região transmontana e duriense, nomeadamente através de projetos de desenvolvimento integrado de Trás-os-Montes.

Os setores agropecuário e florestal são aqueles que a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro mais ajudou a desenvolver, com destaque para a vitivinicultura, a partir da criação do Curso de Enologia, e projetos para a valorização das raças de gado autóctones. "O envolvimento com a região" foi, de acordo com Eduardo Rosa, o fator de sucesso da academia.

Imagem de marca

Quanto à Enologia, Rosa sublinha que o curso é quase "um estudo de caso", pois "os técnicos formados na UTAD espalharam-se por todo o país e foram absorvidos por empresas que perceberam que era preciso evoluir". A eles se deve "a imagem de marca dos vinhos nacionais, que representam mais de 800 milhões de euros de exportações". O vice-reitor salienta também que a área florestal de Portugal também "beneficiou muito da formação" obtida em Vila Real.

O atual reitor da UTAD, Emídio Gomes, chegou mais tarde que Eduardo Rosa à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Em 1978 começou ali a sua carreira académica. Eram "tempos difíceis", pois a viagem entre o Porto e Vila Real demorava "quase quatro horas" (hoje faz-se em uma). Ainda por cima, a cidade era "muito fechada e muito pobre, que olhava com desconfiança para a chegada do ensino superior".

Emídio Gomes assume que a universidade foi fundamental para mudar Vila Real e a região transmontana e duriense. "Não têm nada a ver." Mas o desafio é que continue a ter a mesma importância, pois "não há futuro para esta região sem a UTAD".

Futuro exigente

Esta terça-feira, na cerimónia de comemoração dos 36 anos da instituição como universidade, Emídio Gomes passou à academia uma "mensagem de exigência e desafio para o futuro", para que "a universidade continue a ser digna desse nome".

O reitor lembrou que as três Comunidades Intermunicipais da região (Douro, Trás-os-Montes e Alto Tâmega), "não totalizam hoje, sequer, as quatro centenas de milhar de habitantes". As três sofrem com "um saldo migratório negativo", o que, frisou, "acentua ainda mais o envelhecimento da população residente".

Perante este cenário e a necessidade de captar estudantes noutras zonas do país, o reitor da UTAD foi taxativo: "Ou somos melhores, mais atrativos e diferentes, ou teremos dificuldades." Por isso, será necessário "trabalhar afincadamente pelo futuro".

Para concorrer com outros estabelecimentos de ensino superior, Emídio Gomes prometeu "melhores condições no campus e de acolhimento, tratando melhor os estudantes, tendo um ensino diferenciador e novas áreas apelativas".

Cronologia da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

2 de março de 1974 - Tomada de posse, no Ginásio do Liceu Camilo Castelo Branco, da primeira Comissão Instaladora do Instituto Politécnico de Vila Real (IPVR), presidida por António Réfega.

Meados de 1974 - Início da atividade letiva, com a realização de um programa de cursos de atualização, cujo objetivo era o de proporcionar uma melhoria dos conhecimentos científicos aos técnicos da região, em particular aos serviços regionais de agricultura.

2 de dezembro de 1975 - Início do primeiro ano letivo da futura UTAD no salão dos Bombeiros Voluntários da Cruz Verde. Nessa data estavam inscritos no IPVR três cursos para cerca de 40 alunos.

29 de dezembro de 1975 - Celebração da escritura para a aquisição, por 10 mil contos, da Quinta de Prados, uma área de 52 hectares onde está instalado atualmente o Campus Universitário da UTAD.

14 de setembro de 1979 - Publicação da Lei que criou o Instituto Universitário de Trás-os-Montes e Alto Douro.

22 de março de 1986 - Governo decreta converter o Instituto Universitário em Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Ano letivo 1979/80 - Foram criados cursos Produção Agrícola, Produção Animal e Produção Florestal. Eram frequentadas por 250 alunos. Posteriormente passaram a chamar-se Engenharia Agrícola, Engenharia Zootécnica e Engenharia Florestal.

Crescimento - O Instituto Politécnico de Vila Real começou a funcionar com 16 docentes. Hoje a UTAD tem mais de 500. A maior parte portugueses, mas também de França, Bélgica, Argentina, Reino Unido, EUA, Grécia, Brasil, Espanha, entre outros. O instituto arrancou a sua atividade com três cursos de bacharelato, designadamente Produção Agrícola, Produção Animal e Produção Florestal, e 40 alunos. Hoje estudam na UTAD cerca de 7.500 alunos, espalhados por 120 cursos, desde as licenciaturas até aos doutoramentos.

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