Vacinação da Covid como se fosse a da gripe? Gouveia e Melo critica "ideia peregrina"

O vice-almirante Gouveia e Melo não vê com bons olhos o seu regresso à task-force do processo de vacinação contra a Covid-19.

O vice-almirante Henrique Gouveia e Melo criticou esta quarta-feira o processo de vacinação simultâneo contra a Covid-19 e a gripe sazonal, referindo a "ideia peregrina" de fazer a vacinação contra a Covid como se fosse a da gripe "parece estar de volta em muitas atitudes".

"Houve a ideia peregrina no sistema de saúde de que conseguiríamos fazer esta vacinação como se fosse a vacinação da gripe, normal. Era mais um esforçozito, vacinava-se um milhão e meio de pessoas. Portanto, vacinar nove milhões de pessoas vezes duas doses era só um bocadinho mais. Essa ideia peregrina às vezes parece estar de volta em muitas das atitudes. Temos de aprender com as lições, quem não aprende depois sofre consequências de não aprendizagem. Tivemos de evoluir os sistemas em andamento, em operações. Quando pessoas muito zangadas vinham ter comigo, eu dizia sempre: 'Mesmo que o carro esteja a 100 quilómetros por hora, o que nos é exigido é mudar o pneu com o carro em andamento'", afirmou numa conferência no Dia da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.

Gouveia e Melo não vê com bons olhos o seu regresso à task-force do processo de vacinação contra a Covid-19, rejeitando um "sebastianismo" que não seria saudável para o país.

"Estarei sempre disponível enquanto militar, mas gostaria de ver a nossa sociedade a andar para a frente de outra forma: sem nenhum Sebastião, porque Sebastião é cada um de nós", disse o ex-coordenador da task-force.

O militar defendeu que o país deve dar espaço às instituições nacionais para solidificarem as suas capacidades, "sob o risco de andarmos sempre de processo excecional em processo excecional".

"O meu papel enquanto militar foi ajudar a colocar um penso rápido na ferida. A ferida fechou e sarou, agora precisamos de viver sem pensos rápidos", disse Gouveia e Melo, salientando que o país está noutra fase, mas que existe a "tendência outra vez de dizer 'tragam o Sebastião'".

Para o vice-almirante, dizer "'tragam o Sebastião' é provar que não aprendemos nada enquanto sistema".

O país precisa, frisou, de conseguir unir "outra vez" a Ordem dos Médicos, dos Enfermeiros e as diversas entidades do Ministério da Saúde e "esse ecossistema resolver este problema da terceira dose e do que vier para a frente".

Numa conferência em que foi aplaudido de pé, o ex-coordenador disse que, atualmente, é necessário olhar com coragem para os dados dos novos infetados e tomar decisões de forma consciente, sem andar atrás de outros interesses.

"Temos de analisar neste momento quem é que está positivo, é preciso ter números e não entrarmos em pânico. Será que quem está a ficar positivo não são as pessoas que não foram vacinadas e se é isso é a terceira, quarta ou quinta dose que vai ajudar", questionou.

Gouveia Melo questionou ainda quantas pessoas estão a morrer das que estão vacinadas "e em que condições é que estão a morrer", frisando que, sem esses dados, "é tudo ruído e em ruído podemos decidir mal".

Segundo o militar, Portugal tem de olhar para os dados e estabelecer, "de forma inteligente, qual a melhor estratégia e segui-la depois com as nossas capacidades, dando espaço também às instituições nacionais para solidificarem as suas capacidades.

"Vamos tentar, de forma coordenada, atacar o problema de forma racional, olhando para os dados. Quem é que está a ser infetado, ninguém me sabe responder. Quantas pessoas estão a morrer realmente vacinadas? Essas pessoas já tinham 100 anos de vida e 300 complicações? Estão a morrer de infeções respiratórias ou de outras coisas?", indagou.

Para o ex-coordenador da "task force" do processo de vacinação, sem dados e sem estudo não é possível decidir de forma consciente e "não induzida por mimetização de coisas que se passam noutros sítios".

"Temos de acreditar em nós, nas nossas instituições e dar forças às nossas instituições, não é trazer para a guerra política que só nos vão destruir capacidades", sublinhou.

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