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As conversas de olhos nos olhos alargam e enriquecem a nossa rede social. A Rede Social, a entrevista de Fernando Alves.
Às terças-feiras, depois das 19h00.

João de Melo: "Andamos com a História recente atravessada na garganta"

Nasceu em 1949 na Achadinha, no nordeste da ilha de São Miguel. Romances como "O meu mundo não é deste reino", "Autópsia de um mar de ruínas", "Gente feliz com lágrimas", "O homem suspenso" ou o muito recente "Livro de Vozes e Sombras", fazem de João de Melo um dos grandes autores portugueses deste tempo.

Sabendo que o autor não se revê na ideia de que "Livro de Vozes e Sombras" caiba na estante do romance histórico mas constatando que a História de um preciso tempo português percorre as quase quatrocentas páginas deste romance, o editor da Rede Social cuida de saber de que modo é que a História portuguesa recente é para aqui chamada.

"Este livro insere-se numa ideia que percorre tudo o que escrevo, a ideia da contra-epopeia lusitana", explica João de Melo. "Não necessariamente no sentido de uma oposição, por exemplo, aos "Lusíadas" que exaltam o génio lusitano, e que nos colocam entre os melhores do mundo numa época, o Renascimento, em que isso era um cânone obrigatório, mas no sentido em que falta falar também dos reveses que a História nos infligiu ao longo destes séculos todos".

Isso explica que o escritor olhe para "Gente Feliz com Lágrimas" como "uma espécie de pranto contra o salazarismo" ou para "Autópsia de um Mar em Ruínas" como "o canto fúnebre do império, de um império que, afinal, nunca existiu". Já este novo romance acolhe um tempo português marcado pelo "fim de África, na presença física não no imaginário, um 25 de Abril que resgata a energia adormecida e, finalmente, a história um pouco rocambolesca e absurda de uma pequena minoria disposta a lutar contra tudo isto opondo os Açores ao PREC e à descolonização". A conversa aborda essas três "ressacas". E depois flui, tratando do modo como o autor se relacionou com os jornais, dos prémios que recebeu, dos encontros com Vergílio Ferreira ou do modo como deixámos criar uma proximidade perigosa à palavra "distanciamento".

Lá para o fim, o jornalista recupera uma ideia que João de Melo expressou, com estas precisas palavras, numa entrevista dada, há tempos, à jornalista Mariana Pereira do DN: "A eternidade num escritor é ele um dia morrer e ficar como os outros, com a boca cheia de terra e acabar-se assim".

"Já passaram uns anos. Não quer retocar a ideia, João?" - perguntou o editor da Rede Social.

"Não, não quero nem posso" - respondeu o escritor.

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