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Em Maringá, no Paraná, a secretária hospitalar Ana Paula Benatti, 22 anos, foi surpreendida com texto anónimo de "pai de família" a exigir mudança no seu vestuário
Com um cenário de conservadorismo em alta no Brasil, desde a eleição de Jair Bolsonaro em 2018 apoiado por líderes evangélicos, a jovem Ana Paula Benatti, 22 anos, foi aconselhada por um vizinho a mudar o vestuário, caso contrário ele entraria em contacto com a dona do apartamento.
Ana Paula, escriturária hospitalar de Maringá, no Paraná, região sul do Brasil, chegou a casa em meados de maio e viu uma mensagem anónima à porta. Nela, um suposto vizinho que se definia como "homem", palavra sublinhada, e "pai de família", expressão também em destaque, pedia "pudor" e "decência" à jovem na forma de se vestir.
"Aqui moram pessoas casadas", dizia a carta, "fiquei com vergonha de estar com a minha filha e a senhora quase nua lá fora", continuava.
No final, uma ameaça: "muda o jeito de se portar neste lugar ou vamos conversar com a dona do apartamento". "Aqui não é zona, não (sendo que "zona", no Brasil, é como são chamados os lugares de prostituição)".
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A jovem partilhou a missiva nas redes sociais, apresentou queixa na polícia e vai entrar com uma ação por injúria e assédio. "São crimes morais", afirmou.
Ela não sabe o que motivou a ira do vizinho mas presume que tenham sido uns calções curtos e uma blusa.
Entretanto, um mês antes, na capital federal Brasília, a dentista Najhara de Mello, 36 anos, passou por situação semelhante, ao receber e-mail de um "conselho de mulheres" por usar roupa apertada de ginásio nas áreas comuns do edifício.
E assim vai o século XXI brasileiro.