- Comentar
Ao todo são 21 artistas que nasceram e viveram em Angola, no Congo, no Benim, na Guiné, na Argélia ou em Madagáscar e herdaram memórias que chegam da família e de grupos de amigos e que não só são vozes, como sons e gestos, imagens e recordações das culturas de origem.
Estes são alguns dos pontos de partida para um trabalho de investigação nos arquivos históricos, familiares e institucionais. "Europa Oxalá" propõe uma reflexão sobre o racismo, a descolonização das artes ou a desconstrução do pensamento colonial.
"A posição dos governos tem sido, de alguma forma, a de silenciar um pouco o debate com um argumento, do meu ponto de vista, bastante frágil: enquanto não houver uma reclamação por parte dos governantes das ex-colónias, não vale a pena avançar por aí. No meu ponto de vista não faz sentido porque há um princípio de ética que está aqui subjacente a esta devolução", descreve o curador português da exposição, António Pinto Ribeiro.
Nos últimos anos, muitas estátuas com figuras do colonialismo ou do escravismo foram derrubadas ou destruídas na Europa e nos Estados Unidos. "Os monumentos são importantes para a reflexão do passado", defende o diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.

Leia também:
O adeus a David Sassoli e a primeira portuguesa no parlamento alemão
Subscrever newsletter
Subscreva a nossa newsletter e tenha as notícias no seu e-mail todos os dias
"Há quem avance muito, nomeadamente os ativistas mais radicais, para a ideia de destruição das estátuas. Não é essa a minha posição porque acho que as estátuas não devem ser derrubadas. Há muitas formas de desconstruir o poder imagético que é; ou fazer "isto", que são os desenhos, ou legendar as obras. Por exemplo, o Leopoldo II foi um imperador, mas também o maior genocida europeu em África - aí o comentário à estátua fica claro. Esta é a forma mais inteligente, interessante, socialmente impactante de desvendar a figura deste tipo de personagem", explica.
Nas últimas duas décadas surgiu "uma nova massa crítica de origem na África do Sul, na Nigéria, em Marrocos, no Egito e noutros países africanos", que abriam um novo discurso colonial. "Vieram com uma grande solidez argumentativa e teórica, conseguindo impor-se e descontrair todo esse discurso colonial", descreve António Pinto Ribeiro.
António Pinto Ribeiro acredita que é necessária uma "desconstrução no ensino e na comunicação social", na procura de uma dimensão "mais inteligente e humana sobre o passado, para desconstruir esse pensamento colonial".
O chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, tem sido pioneiro nesta abertura da França nas relações com os países africanos. Emmanuel Macron "foi pioneiro num conjunto de debates que se iniciaram e tem convidado personagens fantásticas, filósofos africanos, estudantes e professores da história argelina", lembra o curador da exposição.
A devolução das obras de arte ao Benim chamou a atenção aos museus "para que eles reflitam de outra maneira. O Presidente francês também faz parte de uma geração que não fez a guerra da Argélia e, portanto, não tem qualquer tipo de nostalgia colonial".
Percorremos o trabalho dos artistas da pós-memória colonial na exposição "Europa Oxalá" com o curador português António Pinto Ribeiro. Uma mostra que convida à reflexão da noção de Europa e da sua relação com o mundo. A exposição "Europa Oxalá" estará em Lisboa a 4 de Março, na Fundação Calouste Gulbenkian.