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1.
Sabes que dia é hoje?
É dia de fazeres a Árvore de Natal.
Não tens desculpa, se fossemos amigos eu não aceitaria uma única justificação que me pudesses dar.
Estares sozinho não é opção.
Monta a "árvore" e não te esqueças das luzinhas que piscam. Podes comprar em qualquer loja do "chinês" e são imbatíveis, por muito que procures não encontrarás nada que te devolva tão rapidamente a infância. Vale bem os euros que gastares.
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Estares doente também não é opção.
Ou estares de luto.
Ou não acreditares em Deus.
Ou estares farto ou farta do Natal, do consumo, das rabanadas, do George Michael e do seu Last Christmas ou do "Sozinho em Casa" e do puto que na vida real se perdeu nas ruas da amargura.
Um segredo que espero possas guardar para a vida
2.
Disseram-me que não se usam luzes de todas as cores. Que já não se poem fitas douradas à volta como se fossem caracóis brilhantes.
No tempo em que esperava por presentes, as árvores eram assim dentro da minha cabeça. Pinheiros que se compravam na rua a senhores que pareciam conhecer o Pai Natal.
Um pinheiro que picava a cara e os braços enquanto o transportávamos até casa. Tinha um cheiro único e havia sempre um vaso de areia ou um balde de chapéus de chuva que o recebia como se fosse família.
As bolas partiam-se quando caiam ao chão.
Lembras-te?
Depois começaram as de plástico, duravam uma vida e eram mais caras se parecessem verdadeiras.
Tenho quatro filhos que são seis.
E uma mulher que é uma espécie de Maria na "Música do Coração".
Fugi toda a minha vida de uma ideia de família e agora pareço o Capitão Von Trapp.
3.
Voltei (está claro) a comprar uma árvore por causa dos pequeninos.
Com o Afonso no carrinho das compras fomos buscar a maior que havia, chegava quase ao teto.
Fiquei num dia 1 de dezembro a vê-los montar a árvore com que sempre sonhei.
A ver o Natal nos seus olhos.
O mais velho pegou na mais nova e ajudou-a com a estrela que só brilha no topo.
Depois foram fazendo presépios, desenhos, pretextos de conversa.
Penduraram chocolates que eu comi às escondidas nas noites em que ficava sozinho a ver as luzes.
E a regressar à infância.
Aos que perdi.
Aos que reencontrei.
Ao tanto que ainda sonho.
Aos embrulhos que não abri.
Às memórias que me ajudam todos os dias a não esquecer o que conta.
4.
Desculpa incomodar-te o feriado.
Mas ouve o que te digo.
Faz a árvore.
Mesmo que estejas em baixo, faz a árvore e não te esqueças das luzinhas que piscam.
São mágicas e vão ajudar-te a acender a luz no que em ti ainda brilha.