Sinais

"Sinais" nas manhãs da TSF, com a marca de água de sempre: anotação pessoalíssima do andar dos dias, dos paradoxos, das mais perturbadoras singularidades. Todas as manhãs, num minuto, Fernando Alves continua um combate corpo a corpo com as imagens, as palavras, as ideias, os rumores que dão vento à atualidade.
De segunda a sexta, às 08h55, com repetição às 14h10.

Um sofá, uma cadeira, um quadro, um livro

De hoje a domingo, o Museu Nacional de Machado de Castro, em Coimbra, disponibiliza um sofá para leitura e oferece o chá e a música ambiente. Esta é uma iniciativa inserida na Semana de Leitura, sob um lema confortável e reconfortante: "O sofá do Museu - um bom lugar para ler". A iniciativa supõe a possibilidade de cada leitor trocar, entretanto, um livro com outro visitante ou doá-lo a uma instituição parceira do Museu. Hoje, os que se aventurarem nessa prodigiosa viagem de sofá com chá e música de fundo poderão ainda participar na conversa conduzida pelo filósofo João Maria André, a partir da obra "Espanto e Encantamento. Memórias de um vigilante de museu" de Pablo d'Ors, o sacerdote que biografou o silêncio. Uma conversa sobre a arte de olhar depois de uma experiência a que poderíamos chamar a arte de ler. Imagino que a alguém ocorra levar para leitura no sofá do Machado de Castro o livro "O culto do chá", de Wenceslau de Mores. Estaríamos perante a mais sublime infusão.

A muitos dos que não possam ir a Coimbra nos próximos dias, talvez ocorra ler Agustina nas paredes de Serralves. Restam três dias para fruir a exposição feita para ser lida. As paredes de Serralves acolhem passagens de "Dicionário Imperfeito" ou da "Contemplação Carinhosa da Angústia". Agustina, que tanto escreveu sobre pintura e sobre pintores, de Paula Rego a Maria Helena Vieira da Silva, e que tanto convocou a pintura para livros como "A Ronda da Noite", ganhou, entretanto, o maior mural do Porto. Algures nesses 120 metros ao longo dos quais doze artistas plásticos evocam momentos impressivos de "Vale Abraão" , "A Sibila" ou "As pessoas felizes", Monica Baldaque, filha de Agustina, pintou o cadeirão em que a mãe escrevia.

Um sofá, uma cadeira, um quadro, um livro.

Eis um exercício estimulante: ocupar os dias, parte deles, conjugando as tantas possíveis leituras da arte de olhar. Algures no fim de tarde, talvez pouse os ossos no pequeno sofá amarelo, um amarelo mais desmaiado que o da cadeira do quadro de Van Gogh e procure o poema de Jorge de Sena ( de quem, em momento feliz, a Guerra e Paz reedita a obra). O poema cujos últimos versos nos perguntam: "Ao fim de tudo / são só cadeiras o que fica, e um modesto vício/ pousado sobre o assento enquanto as cores se empastam?"

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