Uma questão de ADN

Podem ser irmãos, avós e netos, pais e filhos, companheiros, marido e mulher... São pessoas da mesma família que se juntam para uma conversa em que se fala de tudo. São percursos de vida e testemunhos que atravessam diferentes gerações. O que os une para lá do apelido, o que os separa para lá da diferença de idades.
Quarta-feira, depois das 13h00. Repete ao domingo, após as 14h00. Com Teresa Dias Mendes

"Cantar em português é visceral." MARO, um dueto entre mãe e filha

Um disco editado nas plataformas digitais e um sem fim de vídeos na internet fazem-nos ouvir uma e outra vez. Em várias línguas. Hoje, o estúdio de rádio é palco para um dueto entre mãe e filha, Mariana Secca - MARO - e Cristina Brito da Cruz. E ainda, uma convidada surpresa.

"Mas cantora, tu?" Foi com este espanto que a mãe a ouviu dizer que queria seguir música. Ainda pensou que a música seria, para Mariana, continuar o curso de piano, tal como Cristina Brito da Cruz. Licenciada em Engenharia Civil, completou o curso superior de piano no Conservatório Nacional e, entre um estágio no LNEC- Laboratório Nacional de Engenharia Civil - e as aulas na Academia de Amadores de Música, percebeu que era com os alunos " que se sentia feliz". Cristina Brito da Cruz é professora de formação musical, na Escola Superior de Música, em Lisboa, desde 1991.

Mãe de três filhos, obrigou - e garante que obrigou é mesmo a palavra -, obrigou todos a terem aulas de música. "Até ao 9º ano, eles sabiam que não havia escolha." Matilde, a mais velha, desistiu por essa altura; Manuel, o mais novo também; Mariana, a menina do meio, quis continuar. Mas ainda a ouviam dizer que ia ser veterinária.

Mariana Secca não era a aluna mais fácil dentro duma sala de aula. A cabeça estava sempre a voar, a criar. Ao ponto de, às vezes, os professores a mandarem ir dar uma voltinha, e regressar no fim da aula. As boas notas saíam, mas a hiperatividade não dava descanso ao corpo. Conta a mãe que ela chegava a ir para as aulas de ténis, jogava mais uma hora extra com o professor, voltava para casa a correr e ainda subia e descia as escadas umas 20 vezes. "Os meus filhos são todos espalha brasas, mas nenhum era tanto assim." Desporto, movimento, inquietação.

Escrevia e fazia arranjos musicais desde pequena, guardava. E quando decidiu mostrar, foi aí que a mãe se espantou: "Cantora, tu?" E é quando Mariana decide tentar uma bolsa na conceituada escola de Berklee, em Boston, que a revelação acontece. "A surpresa foi nós irmos para Paris fazer os testes, eu pensar: isto é muito caro, ela não tem formação de jazz, e depois ela entrar..."

Cristina Brito da Cruz não esconde o orgulho : "Ela tem um timbre único, afinação que eu adoro, e precisão rítmica."

Num ano fez três semestres, noutro dormiu dois semestres no chão, porque o dinheiro não permitiu outra cama. Nunca desistiu. "Que sorte que eu tenho, que sorte que eu tenho, que sorte que eu tenho...", repetia, e repete, mostrando ser grata pelo que tem e pode. Terminou o curso em 2017, e foi partilhando a voz, os amigos e as canções, através das redes sociais.

Em 2018, edita o primeiro álbum nas plataformas digitais, três volumes de canções, e estreia-se em Lisboa e no Porto, depois junta-se à banda do jovem músico inglês, Jacob Collier . Músicos portugueses como Rui Veloso e Ana Moura já se renderam ao talento dela. Falam de uma voz rara, de uma interpretação profunda, de um timbre singular. E MARO é o nome artístico de Mariana Secca.

A viver em Los Angeles, onde quer ficar mais uns cinco anos, pelo menos mais cinco, planeia para depois o regresso a Portugal. Onde é que ela viria tocar, se a convidassem? Teatro Chirco, de Braga, porque "é uma sala lindíssima".

Cristina não esconde as saudades. "Ter uma filha longe às vezes não é fácil."

E escutando uma ou outra música, pressente uma tristeza que lhe aperta o coração de mãe, "mas não sou nada daqueles pais que se lamentam...Ela foi e eu estou felicíssima. O que digo aos meus alunos, é o que lhe digo a ela também". Ainda falamos do pai, o professor de biologia que também toca guitarra, da avó pianista, e do bater da língua portuguesa. O som que MARO canta, com "esse tom visceral" a que só chega com a língua com que cresceu. E, no fim, servimos música com copos.

UMA QUESTÃO DE ADN é um programa de Teresa Dias Mendes, com sonorização de José Manuel Cabo. Passa esta quinta-feira, às 19h, repete depois da 01h00, e no domingo, a seguir às 14h00.

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