Verdes Hábitos

Agir é preciso! As mudanças de hábitos em tempos de emergência climática. As grandes questões, os desafios, os problemas relacionados com a sustentabilidade e o ambiente. "Verdes Hábitos" na TSF com Carolina Quaresma e a Associação Ambientalista Zero. Às segundas-feiras depois das 16h40 e sempre em tsf.pt.
(Até 2021 o programa foi da autoria de Sara Beatriz Monteiro e Inês André de Figueiredo).

A três velocidades. Camada de ozono pode estar recuperada daqui a 40 anos

2040, 2045 e 2066: estas são as datas em que, segundo as Nações Unidas, o buraco da camada de ozono pode estar totalmente fechado. No Verdes Hábitos desta semana, Francisco Ferreira, da associação ambientalista Zero, considera que esta é "uma boa notícia", mas "ainda há um longo caminho pela frente".

A camada de ozono pode estar totalmente recuperada daqui a 40 anos. É essa a conclusão do mais recente relatório do Painel de Avaliação Científica das Nações Unidas do Protocolo de Montreal, que prevê que a camada de ozono esteja "totalmente normalizada" até 2040, sendo que no Polo Norte será apenas em 2045 e no Polo Sul em 2066. Francisco Ferreira, da associação ambientalista Zero, explica que estas diferentes velocidades estão relacionadas com as "regiões mais frias", como acontece com os Polos.

"Há determinadas reações que se dão na primavera dos respetivos polos - em março no Polo Norte e em setembro no Polo Sul - que levam a um conjunto de reações que destroem muito mais o ozono, desde que esteja lá cloro ou outros compostos presentes. Aí a recuperação vai ser mais lenta por causa do arrefecimento muito grande que se dá e das nuvens polares que se formam nestas zonas, principalmente no Polo Sul", afirma.

O especialista recorda que "o buraco do ozono foi maior em 2006, tendo uma área superior à da Europa". Atualmente, o cenário "é melhor", mas "ainda temos um longo caminho pela frente".

A importância da camada de ozono para a vida da Terra

A camada de ozono "é uma zona à volta dos 45 quilómetros de altitude, onde a concentração de ozono é maior do que no resto da atmosfera", com cerca de 90% do ozono.

"Se não tivéssemos camada de ozono, não era possível a vida na Terra da forma como a conhecemos, porque estas moléculas de ozono conseguem absorver o total da radiação ultravioleta mais energética. A camada de ozono nos Polos é mais sensível a determinados fenómenos, como as baixas temperaturas no inverno, e há fenómenos que levam a que falemos de um buraco na camada de ozono, que nunca chega a ser a ausência de ozono. É uma concentração muitíssimo menor, deixando passar mais radiação, mas mesmo assim, retendo os piores raios ultravioletas no que respeita ao Ártico e ao Polo Sul", explica.

Tudo começou na década de 70 quando Rowland e Molina "começaram a suspeitar que poderíamos fabricar determinados gases que estariam a destruir a camada de ozono".

Na década de 80, essa "desconfiança" acabou por ser confirmada. Francisco Ferreira refere que esses gases - os clorofluorcarbonetos e hidroclorofluorcarbonetos - são "extremamente úteis" e "excelentes" para serem utilizados como fluidos refrigerantes nos equipamentos como frigoríficos e ares condicionados, mas prejudiciais para a camada de ozono.

"Fomos nós que, na década de 50 e 60, inventamos estes gases mas não nos apercebemos que depois de algum tempo iriam chegar à estratosfera, onde está a camada de ozono, e eram capazes de destruir significativamente", sustenta o líder da Zero.

O Protocolo de Montreal

Francisco Ferreira indica que os "alarmes soaram" na década de 80, porque "podíamos ter uma catástrofe à escala planetária".

"As Nações Unidas em 1985 criaram uma convenção - a convenção de Viena - onde se procurou decidir como é que nós íamos lidar com este problema à escala mundial. Havia que procurar soluções tecnológicas para substituir estes gases que já estavam em muitos equipamentos, mas acima de tudo proibi-los. Isso surge em 1987 com a assinatura deste protocolo de Montreal, em que foram feitas mais exigências aos países desenvolvidos, que tinham maior capacidade de fazer esta substituição do uso destes gases e esta proibição sempre que possível, e foi dada uma folga maior aos países em desenvolvimento. É um protocolo que tem sido um emblema da salvaguarda do planeta e de como é possível os países trabalharem juntos em relação a um problema gravíssimo", refere.

"Um átomo de cloro é capaz de destruir 100 mil moléculas de ozono. O protocolo de Montreal e a convenção de Viena permitiram perceber melhor o que se estava a passar e as medidas necessárias", sublinha o especialista.

A destruição da camada de ozono, as alterações climáticas e o aquecimento global

Francisco Ferreira afirma que há uma relação entre a destruição da camada de ozono e as alterações climáticas, mas "é preciso cuidado".

"As alterações climáticas são um problema e a destruição da camada de ozono é outro. Os gases que dão origem à destruição da camada de ozono são também gases com efeito de estufa, ou seja, se nós retirarmos estes gases de comercialização e da atmosfera, estamos também a prevenir as alterações climáticas", sustenta.

Para substituir os clorofluorcarbonetos e os hidroclorofluorcarbonetos, que "destroem a camada de ozono", foram encontrados os hidrofluorcarbonetos, gases "sem cloro", mas ainda "com efeito de estufa".

"A relação tem a ver com o tipo de gases, os iniciais acabavam por afetar os dois problemas, os que foram substituir não destroem a camada mas são fortíssimos gases com efeitos de estufa, responsáveis por dois a três por cento do aquecimento global e das consequentes alterações climáticas."

O presidente da Zero refere que "o protocolo de Montreal, neste momento, já está também a ajudar o clima, porque está a reduzir os compostos substitutos que foram encontrados para não destruir a camada de ozono, mas que um quilo de um desses gases é capaz de equivaler a três ou quatro toneladas de dióxido de carbono em termos do seu potencial de aquecimento global".

"Estas medidas que o protocolo de Montreal, com a emenda de Kigali e com os planos traçados para as próximas décadas, estão aqui a dar uma forte ajuda a termos menos emissões de gases com efeito de estufa", considera.

Como proteger a camada de ozono?

Francisco Ferreira recomenda cuidados com os aparelhos de refrigeração, como os frigoríficos e os ares condicionados.

"Se o frigorífico ou ar condicionado chegarem ao fim de vida devem entregá-lo na compra de um novo ou, se não comprarem um novo, contactem o município. Da nossa parte, também procuramos garantir que estes equipamentos elétricos e eletrónicos são devidamente tratados e processados, porque sabemos que há muitos casos em que eles são abandonados e depois retiram o compressor, que é uma parte valiosa, e os gases vão diretamente para a atmosfera. É isso que não queremos que aconteça. Os equipamentos em fim de vida têm que ir para o destino certo", conclui.

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